São Paulo, sábado, 25 de maio de 1996
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Platel traz encontro entre dança e teatro

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM GLASGOW

Um encontro inovador entre dança, teatro e música ocorre na peça "La Tristeza Complice", do coreógrafo belga Alain Platel.
O espetáculo inaugura o Carlton Dance Festival em São Paulo nos dias 12 e 13 de junho (no Rio, será apresentado no dia 12).
Com música do inglês Henry Purcell (1659-1695), tocada ao vivo em um arranjo para acordeões realizado por Dick Van der Harst, compositor da vanguarda belga, "La Tristeza Complice" é interpretada pelo Les Ballets C. de la B, cujo elenco inclui dois garotos de 11 e 12 anos.
Um dos autores mais importantes da dança contemporânea, Platel falou à Folha logo após a apresentação de "La Tristeza Complice" no Tramway Theatre, em Glasgow (Escócia).

Folha - Como surgiu a idéia de fazer da música o ponto de partida de "La Tristeza Complice"?
Alain Platel - A idéia de fazer um espetáculo a partir da música é antiga. Em geral os coreógrafos da dança contemporânea rejeitam música clássica, mas eu gosto deste confronto, do embate que ocorre em uma situação de rejeição.
Quando Dick Van der Harst sugeriu um arranjo para acordeões sobre a música de Purcell, fiquei estimulado, pois o desafio seria transferir a realidade atual das ruas para uma música intimista, feita para a burguesia do século 17.
Em "La Tristeza Complice", é possível perceber este conflito, evidenciado também pelos tipos humanos que compõem o elenco. Folha - Entre os personagens, há um rapaz que tenta fazer movimentos de dança clássica, incluindo as afetações do estilo.
Platel - Gosto de respeitar a formação de cada pessoa. Este rapaz, quando ingressou no grupo, negava completamente seu background clássico. Achava que não combinava com dança contemporânea. Sugeri que procurasse combinar essa técnica com o que sente e fizesse descobertas pessoais.
A ironia surge porque, no grupo, há a permissão para cada um ser o que é, para ser irônico consigo mesmo, tornando divertido o que se renega.
Folha - Despertar uma consciência social é um objetivo seu?
Platel - Acho importante fazer um comentário social. Não consigo realizar algo meramente estético. Isto é muito raro na dança, em geral voltada para a beleza estética.
Folha - Sua dança inclui defeitos e vulnerabilidades, descartando movimentos perfeitos. Por quê?
Platel - Não posso entender artistas e coreógrafos que enfocam somente coisas superlativas, como beleza, elegância e força.

A jornalista Ana Francisca Ponzio viajou à Escócia a convite da produção do Carlton Dance

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