São Paulo, sábado, 25 de maio de 1996
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Tensão da polarização substitui medo de bombas

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Para eleger 120 membros do Knesset e o novo premiê A "Voz de Israel" termina seu noticiário com o aviso, entre aliviado e temeroso: "Nada aconteceu. Ainda".
O "nada" é o fato de se ter passado mais um dia sem que fosse cometido outro ato terrorista.
Faltam agora apenas quatro dias para que os 3,9 milhões de eleitores israelenses se dirijam às urnas para escolher o novo primeiro-ministro e os 120 membros do Knesset (Parlamento).
São dias em que a tensão flutua no ar, apesar da placidez enorme do feriado de ontem, o shavout, a festa das primícias, as primeiras colheitas.
Divisão ao meio
Tensão que vem não apenas da ameaça sempre latente do terrorismo, mas também da clara percepção de que a sociedade israelense está partida virtualmente ao meio.
Nos pontos de ônibus, um outdoor do Shas, partido dos ortodoxos sefarditas (judeus orientais), proclama que "a necessidade do momento é a necessidade de conciliação".
A foto do cartaz mostra dois jovens de costas, um com e o outro sem o quipá dos fiéis à cabeça (símbolo de reverência a Deus).
A polarização chega a tal ponto que um grupo de 27 intelectuais, de direita e de esquerda, uniu-se e divulgou um manifesto pedindo moderação.
"Estamos conscientes de que na sociedade israelense há diferentes sonhos sionistas, que, de muitas maneiras, contradizem uns aos outros", diz o documento.
O objetivo é manter abertos os canais de comunicação entre os "sonhos" expressos nos campos políticos que disputam a eleição.
'Decisão tribal'
Mas a polarização se expressa também no diferente comportamento eleitoral de sefarditas e ashkenazis, os judeus ocidentais. A ponto de fazer o colunista do jornal "Yedioth Ahronot", Nahum Barnea, escrever:
"Israel está polarizado, pelo menos politicamente, entre duas tribos. Para a maioria dos votantes, a decisão não é ideológica nem pessoal. É tribal."
O pior é que, venha ou não um novo atentado, antes ou depois das eleições, a polarização tende a permanecer, pelo menos na visão de David Horovitz, editor-executivo da revista "The Jerusalem Report":
"O fato é que o eleitorado israelense se divide ao meio sobre as virtudes do processo de paz. E, tal como o assassinato de Rabin (Yitzhak Rabin, morto em 4 de novembro do ano passado por um extremista judeu contrário à paz com os árabes) nada fez para curar tais divisões, essa eleição duramente disputada, vença quem vença, provavelmente deixará Israel não menos polarizado".
(CR)

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