São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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Comunismo se une à tradição na China

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL A ZHANGJIAGANG

Um código de comportamento apoiado no apelo à disciplina oriental, no autoritarismo comunista e nas multas aplicadas com rigor fez de Zhangjiagang uma "cidade-modelo" na China.
Seu padrão de limpeza, as ruas largas e com motoristas comportados, os jardins bem-cuidados e a ausência de camelôs contrastam com o caos que caracteriza algumas das principais cidades da Ásia.
O "espírito de Zhangjiangang" significa fumar em locais autorizados: nas ruas junto às latas de lixo.
"Ninguém pode fumar enquanto caminha, porque vai deixar cinzas em qualquer lugar", diz Zhou Baoxing, vice-chefe do Departamento de Propaganda do Comitê Municipal do Partido Comunista.
A cidade de 820 mil habitantes também se orgulha de seu calçadão. A rua Sha Zhou, fechada aos carros desde 1992, enfileira 40 latas de lixo em 800 metros de extensão.
Zhou responsabiliza o "espírito de Zhangjiagang" pelo sucesso da cidade e enumera quatro slogans principais: união e luta, carregar o fardo e avançar, manter a pressão e lutar para ser a número 1.
Questionado sobre o orçamento, Zhou diz não ter as cifras. "Mas posso garantir que educação e limpeza são as prioridades."
As autoridades de Zhangjiagang promovem ainda campanhas no tradicional estilo comunista. Cartazes nas ruas e faixas com slogans lembram aos habitantes suas "obrigações e multas".
A multa para quem fumar e cuspir no chão varia entre 10 yuans e 20 yuans (cerca de US$ 2,40). Também são multadas famílias que não coloquem lixo em sacos plásticos.
Arquiteto da revolução
O arquiteto dessa revolução asiática se chama Qin Zhenhua, 60. Secretário-geral do Partido Comunista em Zhangjiagang, o ex-camponês comanda a cidade desde 1991, com um plano que explora tradições orientais e comunistas de governar com mão de ferro.
Seus modelos brotaram em solo asiático. São Taiwan, Coréia do Sul, Cingapura e Hong Kong, "tigres capitalistas" que aliaram desenvolvimento econômico a doses de autoritarismo na política e na organização social.
"Esperamos alcançar o mesmo grau de desenvolvimento dos tigres", afirma Zhou. "Eu mesmo já estive em Cingapura e vi que não estamos tão longe."
Zhangjiagang apóia seu plano num desenvolvimento econômico que levou a cidade a contabilizar uma renda per capita de US$ 2.800, sete vezes a média nacional.
Os resultados saem principalmente dos balanços de empresas estatais, fato pouco comum num país comunista que abriu suas portas para iniciativa privada.
"Além da economia, precisamos cuidar da civilização, sempre promovendo o 'espírito de Zhangjiagang'", diz Zhou Baoxing.

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