São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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Bolsas são recomendadas, mas só para diversificação

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Apesar dos percalços na aprovação das reformas constitucionais, analistas e executivos do mercado financeiro entendem que a compra de ações é hoje boa alternativa para que médios investidores diversifiquem suas aplicações, tendo em vista o médio e longo prazos.
A porta de entrada na Bolsa, neste caso, seria os fundos de ações, que têm carteiras mais diversificadas e, a troco de uma taxa de administração, prestam um serviço que numa corretora só é acessível a quem possui cacife financeiro alto.
Alexandre Zakia, executivo do Banco BBA Creditanstalt, está otimista com o mercado acionário neste ano. "O cenário é de estabilidade e de queda dos juros, o que é positivo para as Bolsas", diz ele.
Zakia ressalva que o mercado "não andará em linha reta, sofrerá reveses na economia e na política, e também nos juros internacionais, fora do nosso alcance, mas o processo é de alta". Por isso, "separe sempre o dinheiro de longo prazo", acrescenta ele.
Novos percalços ocorreram na última quarta-feira, com a votação da reforma da Previdência, e logo no dia seguinte com a alta dos juros nos Estados Unidos.
Cuidado na escolha
Antes de entrar num fundo de ações, aconselha o executivo do BBA, o investidor deve escolher um bom administrador e avaliar sua performance histórica.
A parcela investida tanto pode ser de 20% do disponível, para alguém mais conservador, quanto 50%, no caso de quem está mais disposto a correr riscos.
Para Eduardo Santalucia, gerente de investimentos do Sudameris, a Bolsa brasileira "está ficando adulta, sem grandes variações para cima e para baixo, como antes, e tem espaço para subir".
Mas, na opinião dele, o investidor que está pensando agora em aplicar em ações "não deve ir com muita sede ao pote".
Ele recomenda que sejam aplicados num fundo de 20% a 25% do dinheiro novo disponível, como se faz com poupança, CDB ou fundos de renda fixa. Desaconselha que dinheiro já aplicado seja transferido para um fundo de ações.
O médio investidor deve escolher um banco de confiança e um fundo que não flutue muito, pensando em ficar nele por no mínimo um ano, afirma Santalucia.
Marco Antonio de Almeida Panza, analista de investimentos, entende que, pelo menos até o final deste ano, os juros continuarão competindo forte com as Bolsas. Mas, como Zakia e Santalucia, mostra-se confiante com o futuro do mercado acionário.
"A tendência é para cima; o que emperra está mais na política", afirma Panza, referindo-se às votações das reformas no Congresso.
Fundos de ações são a melhor opção de diversificação para o médio investidor, mas, antes, diz Panza, ele deve se informar sobre a composição da carteira, distinguindo os fundos mais agressivos dos mais conservadores.
O primeiro grupo pode apresentar resultados espetaculares no curto e mesmo no médio prazo. Por isso mesmo, o risco de prejuízo é maior. O segundo costuma diluir o risco aplicando também em títulos de renda fixa.
Potencial de alta
Para quem quer formar uma carteira individual de ações, Panza vê maior potencial de crescimento nas empresas das áreas de infra-estrutura (telecomunicações e energia elétrica), de consumo (como alimentos industrializados e bebidas) e de mineração (Vale).
Panza reconhece certo preconceito do investidor médio com as Bolsas, fato comprovado pelos números sobre patrimônio dos fundos de ações. É hoje pouco superior a R$ 1 bilhão, num ramo com total de R$ 74 bilhões.
Nos EUA, onde a distribuição de dividendos, por exemplo, é coisa séria e rotineira, os fundos de ações abrigavam US$ 1,2 trilhão em 95, cerca de 40% do setor.

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