São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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Riscos financeiros são reconhecidos

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Debate-se e há quem duvide até mesmo da existência de riscos financeiros "sistêmicos", ou seja, grandes o suficiente para destruir todo o sistema.
Apesar das crises monetárias, das bolhas especulativas, das quebras espetaculares e dos erros monumentais de avaliação, tanto do mercado quanto das autoridades, nos últimos séculos, os especialistas continuam perplexos diante do fenômeno. E muitos simplesmente não aceitam a hipótese de uma crise ampla o suficiente para destruir o próprio mercado.
Afinal, como conceber, ou mesmo aceitar, que os mercados por excelência mais ágeis e flexíveis, os mercados monetários e de capitais, possam sucumbir às próprias imperfeições?
Pragmatismo
Os teóricos da globalização e os acadêmicos dedicados aos modelos de eficiência dos mercados continuarão perplexos. Na semana passada foram acrescentadas mais duas evidências de que, seja qual for a teoria, é melhor prevenir que remediar. No Japão, estão sendo reconhecidas perdas bancárias de US$ 30 bilhões em 1995. Representam, segundo a imprensa internacional, provavelmente o maior prejuízo já apresentado de uma só vez em toda a história da chamada indústria bancária no mundo. As reservas que estão sendo separadas como provisões para dívidas irrecuperáveis chegam a US$ 150 bilhões.
É uma primeira atitude, um movimento contábil significativo, mas ainda insuficiente diante do que se estima estar oculto no sistema japonês: cerca de US$ 400 bilhões em dívidas podres.
Ou seja, será necessário conviver ainda por um bom tempo com um descompasso entre o que diz a contabilidade e o problema real.
Lista de Camdessus
Também na semana passada, os EUA deram seu apoio e o Grupo dos Dez sacramentou a criação de um novo mecanismo de socorro financeiro de emergência no FMI.
Depois de muito refletir sobre a crise mexicana, decidiu-se que em breve o FMI poderá sacar, em até 24 horas, até US$ 50 bilhões para "apagar incêndios". Desde que, naturalmente, as vítimas estejam dispostas a seguir uma dieta rigorosa e colocar suas contas em ordem, como fez o próprio México desde a crise de dezembro de 1994.
Na prática, os países ricos estão criando um mecanismo que os economistas (os que acreditam em risco sistêmico) sempre destacam: o emprestador de última instância. É uma função essencial dos bancos centrais e serve exatamente para evitar que crises localizadas transformem-se em crises sistêmicas. O FMI estaria para assumir pelo menos em parte uma função de emprestador de última instância para as economias emergentes com risco de submergirem.
Levando-se em conta que há alguns meses o diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus, declarou que havia outros candidatos a afundar depois do México, e somando-se a isso a notícia de que ele foi reconduzido ao cargo e ali ficará até o começo do século 21, a dúvida é inevitável. Quem estará na lista de Camdessus?
Ou ainda, como as bruxas, é possível não acreditar em crises sistêmicas, "pero que las hay, las hay".

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