São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
"Duckman" usa humor ácido e situações absurdas
MORAES EGGERS
Com a chegada definitiva da televisão a cabo, muitos desses desenhos foram resgatados dos arquivos e novos outros foram produzidos para atender às novas expectativas e necessidades de fãs bem mais velhos. Se antigamente alguns desenhos eram feitos com a dose exata de dualidade, servindo para crianças e para adultos, hoje, os estúdios podem se dar o luxo de criar personagens que vivem situações contemporâneas e discutem a existência humana. Desenhos carregados de sarcasmo, de uma fina ironia crítica à sociedade e aos rumos da humanidade. Sátiras de um dia-a-dia moderno e conturbado pelas relações pessoais cada vez mais difíceis. É o caso de "Os Simpsons", que mostra uma família norte-americana simplória e desunida tentando sobreviver em meio a uma constante tempestade psicológica. "O Crítico", que era exibido pelo Multicanal, trazia os conflitos internos de um profissional da crítica, desfilando pelo mundo de aparências e superficialidades do cinema. Rir da desgraça alheia é sempre mais divertido. "Duckman" segue essa linha. O desenho estreou no último dia 15 no USA Networks, nova opção para os assinantes da Net/Multicanal desde o dia 10. "Duckman" está programado para as quartas-feiras, às 21h30, e conta as peripécias de uma estranha família de patos. Como o próprio Duckman definiu no episódio inicial ("Eu, Duckman" - uma espécie de quem é quem da história), ele é "um pato detetive que trabalha com um porco, vive com a irmã gêmea de sua mulher morta, tem três filhos em dois corpos e uma sogra que deveria ter uma placa de 'inflamável' no pescoço". Na estréia, vemos nosso candidato a novo herói amargurado com a falta de atenção da família, um dia antes do aniversário de morte da mulher e mãe, Beatriz, vivida em flashback por Margie Simpson. Duckman está tentando deixar de fumar. Lambe cinzeiros semivazios, alucinado pela falta de nicotina. A casa fica embaixo de um viaduto. Ele esqueceu de levar o cachorro para castrar e, fora as broncas, é ignorado pela família. É um personagem que faz rir pelo exagero de seu egoísmo, de sua falta de escrúpulos e pela ausência total de autocrítica. Briga no trânsito, discute com as secretárias, é alvo de excrementos de passarinhos. Vítima de um atentado a bomba, começa a perseguir o homicida que quer se vingar dele, passando por alusões e referências a "Zé Colméia" e "Popeye". Os textos trazem aquele humor ácido e corrosivo, que produzem o riso a partir do absurdo das situações. Em uma penitenciária, conversando com o diretor, Duckman pergunta: "O que acontece com um homem que faz com que ele se afunde tão profundamente para terminar um lixo de vida em um inferno como esse?" O diretor responde: "Uma boa aposentadoria! Ah, você está falando dos presos??? Quem sabe assistiram a muita porcaria na TV quando eram crianças...". No final, ao se deparar frente a frente com o explosivo bandido, recebe um pedido de desculpas. Era engano. Não era ele o objeto de vingança. "Você é o Patolino? Pato Donald? Ahh, Duckman... É que são milhares de patos detetives...". Dinâmico e intenso, o desenho só peca na dublagem, que é enfadonha. Com certeza seria melhor manter o som original e adotar legendas. Apesar de o desenho ser extremamente nonsense e surreal, o mais difícil na versão brasileira é entender o que os personagens dizem. Texto Anterior: Paulistano assiste à gravação de 'Quem É Você' Próximo Texto: CARTAS Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |