São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 1996
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Gasto do governo com juros cresce 88%

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os gastos do governo com juros da dívida federal dispararam. Segundo cálculos atualizados do Banco Central, o primeiro trimestre do ano registrou despesa 87,5% maior que o mesmo período de 95, já descontado o efeito da inflação.
Nos três primeiros meses do ano, os juros reais da dívida (interna e externa) consumiram R$ 3,986 bilhões. Esse valor é praticamente quatro vezes o R$ 1 bilhão que o governo promete utilizar durante todo o ano na reforma agrária.
Em 95, quando as contas públicas mostraram os piores resultados da década, os gastos com juros no primeiro trimestre foram de R$ 2,125 bilhões, em valores corrigidos pela inflação até março último.
Os números contradizem a tese oficial que prevê a queda pela metade do déficit público este ano, propagada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Argumenta-se que os juros incidentes sobre a dívida são menores hoje que no ano passado.
Títulos
É verdade, mas os juros incidem sobre uma dívida muito maior. A dívida interna em títulos, a mais onerosa, fechou 95 em R$ 108 bilhões e já cresceu R$ 30 bilhões desde então. No início do governo FHC, somava R$ 61,8 bilhões.
Os motivos principais do crescimento dessa dívida permanecem desde 95: a compra, pelo governo, dos dólares de investidores estrangeiros que ingressam no país e o socorro financeiro aos bancos.
Tanto uma operação como outra são feitas com emissão inflacionária de moeda, que precisa ser neutralizada com a venda de títulos no mercado. Retira-se dinheiro em excesso de circulação, mas aumenta-se a dívida interna.
Mais problemas: as contas do BC ainda não incluíram os resultados de abril, mês do pagamento semestral dos juros da dívida externa. O secretário do Tesouro, Murilo Portugal, já anunciou alta dos gastos em abril por esse motivo.
Estados e municípios
A queda dos juros reais neste ano beneficiou, ainda que de maneira tímida, os Estados e municípios, cujas dívidas não cresceram tanto como a federal -a Constituição de 88 proibiu o lançamento de novos títulos estaduais e municipais.
Governadores e prefeitos conseguiram alguma redução nos gastos com juros. Foram R$ 2,842 bilhões no primeiro trimestre, contra R$ 2,906 bilhões no mesmo período de 95 -uma queda de 2,2%.
Ao todo, o setor público (União, Estados, municípios e estatais) gastou R$ 7,759 bilhões com os juros reais das dívidas interna e externa, 25,2% mais que os R$ 6,194 bilhões do primeiro trimestre do ano passado. Em 95, as despesas com juros reais foram as maiores dos anos 90: R$ 36,260 bilhões.

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