São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 1996
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Prefeitura mantém maratona de SP

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo proibida pela Justiça, deve acontecer este ano, no dia 9 de julho, a segunda edição da Maratona Internacional de São Paulo.
As inscrições para a prova já começaram e estão sendo anunciadas pela Rede Globo. A emissora planeja transmitir o evento.
Em outubro do ano passado, o juiz Wilson Gomes de Melo, da 4ª Vara da Fazenda Pública, concedeu liminar determinando que o prefeito Paulo Maluf devolvesse do próprio bolso R$ 1,2 milhão pagos à Globo pela transmissão da Maratona.
Como o juiz não determinou o prazo para a devolução do dinheiro, o prefeito não quitou o débito.
Gomes de Melo determinou que os preparativos para a segunda maratona fossem interrompidos até o julgamento final da ação, que ainda não ocorreu.
A prefeitura recorreu da decisão no Tribunal de Justiça de São Paulo, mas perdeu.
Dia 10 janeiro deste ano, o Ministério Público determinou a abertura de inquérito policial para apurar suposto crime de responsabilidade do prefeito e de seus secretários.
Segundo o secretário municipal dos Esportes, Ivo Carotini, a prefeitura deixou a organização da prova deste ano para "não afrontar a Justiça".
O secretário afirma que a prefeitura "só vai colaborar com as ruas, o controle do trânsito, a segurança, o contato com os órgãos do Estado -como a Sabesp e hospitais- e o apoio necessário".
No ano passado, a prefeitura ainda pagou a Rede Globo, sem a realização de licitação, pela organização e transmissão do evento.
Processos
A não-realização da licitação pública para escolher a emissora que teria os direitos de organizar e transmitir o evento custou dois processos para a prefeitura.
Um foi movido pelos vereadores petistas Adriano Diogo e José Eduardo Martins Cardozo. O outro partiu do empresário Jair Vieira Leal.
Leal ainda acusou o prefeito de usar dinheiro público para fazer propaganda pessoal, uma vez que o percurso da prova passava por obras realizadas pela gestão Maluf, como o projeto habitacional Cingapura.
A prova deste ano será organizada pela empresa Koch Tavares, que tinha sido contratada pela Globo, no ano passado, para organizar o evento.
A empresa não informou quem vai pagar pela transmissão da prova este ano.
O diretor da Koch Tavares responsável pela organização da prova, Ricardo Gomes, se recusou a atender a reportagem da Folha.
Gomes foi procurado durante toda a tarde e início da noite da quinta-feira e de sexta-feira. Suas secretárias diziam que ele estava em reunião ou que tinha saído.
Segundo o secretário Carotini, nesta maratona "não existe nenhum vínculo da Globo com a prefeitura".
Justificativa
O secretário justifica a maratona. "São Paulo tem que realizar alguns eventos por ser a segunda maior cidade do mundo, entre eles a maratona. Se fizermos a terceira prova, a maratona de São Paulo passa a fazer parte do calendário oficial."
Carotini defende a realização da prova alegando que o que está sub júdice é um contrato entre a prefeitura e a Globo, e não a maratona.
Cerca de 8.000 atletas deverão participar do evento, que tem início previsto em frente ao Estádio do Pacaembu.
O vereador Martins Cardozo vai pedir hoje à Justiça que investigue "indícios de desrespeito às liminares" que proíbem a prova.
"De uma forma camuflada, eles estão organizando a mesma maratona do ano passado. Isso pode caracterizar novo crime de responsabilidade", afirmou Cardozo.

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