São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 1996
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Árvores são cortadas para não atrapalhar televisão

CARLA ARANHA SCHTRUK
DA REPORTAGEM LOCAL

Seis seringueiras com cerca de 40 anos de idade foram podadas e uma figueira, com presumíveis 50 anos, foi derrubada este fim-de-semana para que não atrapalhassem as câmeras de TV que vão transmitir a 2ª Maratona de São Paulo.
"A maratona vai passar por aqui e recebemos a ordem de fazer o serviço para que as árvores não atrapalhassem os helicópteros da televisão", afirmou ontem Cirilo José da Silva, 27, encarregado da empresa Trajeto, contratada pela prefeitura para fazer as podas.
Segundo o encarregado, a figueira "estava cheia de cupins" e, por isso, teve de ser derrubada.
As árvores ficam na avenida Professor Manuel José Chaves, no Alto de Pinheiros (zona oeste).
Segundo Silva, o trabalho deverá continuar em outras ruas pelas quais passarão os atletas. A prefeitura ainda não divulgou o traçado oficial da prova.
Walter Lazzarini, 49, da Comissão de Meio Ambiente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), afirma que a poda ou a derrubada de árvores precisam ser acompanhadas por engenheiro agrônomo.
O arquiteto Paulo Bastos, 60, secretário-geral da Saap (Sociedade Amigos do Alto de Pinheiros), conta que não havia engenheiro agrônomo no local.
Quando isso é feito de forma amadorística, segundo ele, conforme a intensidade da poda a recuperação da planta só acontece depois de três ou quatro anos. "Ela pode até morrer."
Em caso de presença de cupins, a última medida é derrubar a árvore, diz Lazzarini. "Há tratamentos."
A Saap vai processar a prefeitura, por meio de uma ação coletiva.
"Ainda não decidimos exatamente que tipo de ação será encaminhada, mas isso não vai ficar assim", afirma Bastos.
Segundo ele, todas as árvores podadas ficam distantes da fiação elétrica da avenida.
"O motivo para essa poda é ignóbil, a prefeitura nem sequer comunicou os moradores e ainda fez tudo errado", afirma Bastos.
Lucilena Bastos, 61, sua mulher, conta que no ano passado também foram podadas árvores, dessa vez na rua Pedroso de Moraes, também devido à maratona.
Para outro morador, Delson Correia Lopes, 58, engenheiro, a principal característica do bairro, a arborização, ficou abalada com a ação da prefeitura.
"O bairro foi planejado assim. As plantas e o solo ajudam a absorver a água da chuva, o que colabora para evitar enchentes", diz.
Élia Marcheoni, 77, professora, afirma que "é absurdo derrubar árvores por causa de um evento."
O morador Carlos Maggioli, 50, é a favor da poda. Segundo ele a diminuição da copa da seringueira que fica na calçada de sua casa vai permitir a entrada de luz no ambiente. "Queria é que tirassem essa árvore de vez. A raiz vai se espalhando. Já trincou o muro", afirmou Maggioli.

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