São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Grupo de extermínio mata 22 em Manaus, diz OAB

ANDRÉ MUGGIATI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

Pelo menos 22 pessoas foram assassinadas por um grupo de extermínio nos últimos dois meses em Manaus (AM), segundo a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Os crimes se assemelham: os mortos são encontrados com mãos e pés amarrados e um tiro na cabeça disparado à queima-roupa. Segundo Andrade, a maioria dos mortos tem passagem pela polícia por pequenos delitos.
Foram 15 homicídios em abril e sete neste mês. Segundo Andrade, teriam ocorrido mais de 50 homicídios nas mesmas circunstâncias desde o início do ano.
Na Delegacia de Homicídios, todos os crimes são registrados como "de autoria desconhecida".
Somente neste mês, a Justiça devolveu 35 inquéritos de homicídios para a polícia, solicitando novas diligências por falta de provas. De acordo com Jackson Andrade, além dos corpos encontrados, há famílias que denunciam o desaparecimento de parentes à OAB.
Desde o início do ano, a OAB registrou 20 desaparecimentos. Todos os relatos de parentes descrevem um Gol branco ou um Chevette creme como os carros usados pelos matadores.
Um dos casos é o de José Floriano Pinheiro, preso diante de sua irmã, Maria Nazaré Pinheiro, no dia 11 passado, por homens que se diziam policiais e ocupavam um Gol branco. Seu corpo foi encontrado no último dia 13.
Segundo o presidente da OAB no Amazonas, Alberto Simonetti Cabral, há indícios da participação de policiais nos crimes. "Há um grupo de maus policiais na cidade, capazes até de homicídios", afirmou.
O promotor Carlos Coelho, do 1º Tribunal do Júri, também suspeita do envolvimento de policiais.
Segundo ele, a promotoria tem dificuldades para investigar devido à pequena quantidade de promotores e à falta de aparelhamento da perícia técnica do Amazonas.
Outro lado
O secretário de Segurança do Amazonas, Klinger Costa, disse desconhecer a existência de grupo de extermínio em Manaus. Segundo ele, o alto índice de homicídios da cidade tem como causas o desemprego e as gangues de rua.
"Isso (grupo de extermínio), aqui em Manaus, não existe. Aqui, não tem nem por que matar. Matar um ladrãozinho, um traficante, quem iria quer fazer isso?", disse.
Costa nega o envolvimento de policiais em homicídios. "Eu quero é que provem." Segundo o secretário, "a diretoria da OAB faz esse tipo de denúncia para se promover. Eles não fazem nada e não querem saber de trabalhar".

Texto Anterior: Universidades de SP entram em greve hoje
Próximo Texto: Pesquisa faz o perfil de carvoeiros do MS
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.