São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 1996
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Flavio de Souza brinca com o tempo

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Apenas duas ou três cenas. Só dois personagens. Com esses poucos elementos, Flavio de Souza escreveu "Uma Coisa Muito Louca", com estréia marcada para 28 de agosto no teatro Bibi Ferreira.
Mas o autor fez dessas coisas simples uma comédia bastante sofisticada: os personagens são multiplicados em suas diferentes faces, as cenas são refeitas sob pontos de vista diferentes ou de acordo com a imaginação e o desejo do casal que está no palco.
A história: um desempregado e uma pesquisadora se conhecem num parque, têm atração imediata e começam um caso. Mas se casam, depois, com outras pessoas. Em cima disso, surge um caleidoscópio.
O encontro é refeito várias vezes, as discussões na cama são reencenadas de formas diferentes, os personagens tentam modificar o passado atuando de formas diversas.
Materializa-se, no palco, um dos maiores sonhos de todo mundo: poder refazer o que já aconteceu, tentar outras possibilidades de agir, fazer o tempo retroceder.
Os dois personagens -Waldo e Moira- ganham duplos (Waldo 2 e Moira 2), que atuam no início como a consciência materializada (lembrando os anjinhos e diabinhos que conversam com personagens de desenho animado).
O nome da personagem feminina, Moira (destino, em grego) é uma chave que antecipa de cara o resultado de todas as peripécias.
Cada passo dos personagens para evitar seu destino é um passo a mais na direção desse mesmo destino: a separação, o envelhecimento. Tudo é feito e refeito para ter sempre o mesmo resultado.
texto foi escrito especialmente para a dupla de atores Luciana Braga e Claudio Fontana, que trabalharam juntos na novela "As Pupilas do Senhor Reitor".
"Eu liguei para o Flavio e pedi um texto. Ele estava em um mau dia e disse que não. Um tempo depois me ligou e já estava com as primeiras 20 páginas prontas", conta Luciana.
A direção é de Enrique Diaz (o mesmo de "Melodrama"), com figurino de Gabriel Villela. Para fazer os duplos, foram chamados Romis Ferreira e Claudia de Souza.
"O texto é o tempo todo representação: lembrança, hipótese, repetição de cenas. Vou trabalhar o prazer que o texto possibilita ao ator", afirma Enrique Diaz.

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