São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 1996
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Israel negocia uma trégua com Hamas

Ações seriam suspensas até eleição

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

Israel está negociando uma trégua até após as eleições de quarta-feira diretamente com o Hamas (Movimento de Resistência Islâmico), responsável por boa parte dos atentados terroristas contra o Estado judeu.
A informação foi dada por uma fonte absolutamente credenciada: Iasser Arafat, líder da Autoridade Palestina, cujos escritórios ficam em Gaza, exatamente onde o Hamas tem a sua principal base de sustentação.
"Foi uma grande surpresa para nós quando ouvimos que há diálogo e conexões entre o Hamas e alguém do lado israelense", disse Arafat à TV egípcia, em entrevista reproduzida pela TV palestina.
Atentados atribuídos ao Hamas, em fevereiro e março, causaram a morte de cerca 60 pessoas e fizeram desabar a vantagem que o premiê trabalhista Shimon Peres levava sobre o líder conservador Binyamin Netanyahu (Likud).
Empate
Até os atentados, Peres levava 16 pontos de vantagem. Agora, os dois chegam à eleição de depois de amanhã em situação de virtual empate estatístico.
Um novo atentado muito provavelmente daria a vitória a "Bibi", como Netanyahu é mais conhecido. O Likud reagiu com indignação à informação de Arafat.
"É uma conspiração", disse Binyamin Begin, um dos principais líderes do Likud. "Está claro agora que o Hamas, que Peres rotulara de monstro do terror, respalda a reeleição de Peres", acrescentou.
Se a negociação existe e se vai dar resultado ou não, é outra história.
Pelas dúvidas, o governo israelense impõe, desde ontem, total fechamento dos territórios habitados predominantemente por palestinos (a faixa de Gaza, ao sul, e a Cisjordânia).
Só podem entrar em Israel membros do primeiríssimo escalão da Autoridade Palestina.
Os de segundo e terceiro escalões têm acesso apenas se acertarem previamente uma permissão especial e passarem pela inspeção formal nas barreiras de segurança montadas pelas Forças Armadas israelenses e reforçadas ontem.
Cidadãos comuns só entram em caso de extrema necessidade humanitária (doentes, por exemplo), desde que desacompanhados.
Com isso, os 7.000 trabalhadores palestinos que têm licença para trabalhar temporariamente em Israel não podem comparecer a seus empregos.
A passagem de mercadorias está vetada totalmente, incluído o trânsito de e para os territórios de produtos vindos do Egito e da Jordânia, países fronteiriços.
As forças de segurança estudam confinar os palestinos em suas próprias cidades ou vilas. Quem mora, por exemplo, em Nablus, uma das seis grandes cidades da Cisjordânia entregues aos palestinos, não poderia ir para Jenin, outra dessas cidades.
Comentário de Mohammed Nashashibi, funcionário da Autoridade Palestina: "É inédita no mundo uma situação em que todo um povo sofre para que políticos de outro povo sejam bem ou mal sucedidos em uma eleição".
Continuam chegando informes de que os radicais islâmicos preparam novos atentados. Os relatos mais recentes falam de ataques suicidas ou carros-bomba.
Suspensão parcial
Para tornar mais tenso o ambiente, o jornal "Haaretz" revela que o fundador e líder espiritual do Hamas, o xeque Ahmed Iassin, detido em um hospital-prisão de Israel, negou-se a fazer um apelo para o congelamento do terror.
Teria concordado, apenas, em pedir a suspensão de ataques contra civis. Desde a semana passada, se anuncia seguidamente que haveria tal apelo por parte do xeque, mas, até a noite de ontem, ele não havia sido divulgado.
A avaliação palestina é que a liderança do Hamas nos territórios quer suspender as operações militares em Israel, durante o período eleitoral, mas os líderes que vivem em outros países são contrários.

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