São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 1996
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AINDA NA CAVERNA

Segundo as Nações Unidas (ONU), já chegam a 100 milhões as pessoas sem moradia no mundo. A maioria é de mulheres e crianças. Há também outros 600 milhões que vivem em lugares insalubres.
Morrem 50 mil pessoas por dia por causas vinculadas estritamente à péssima infra-estrutura urbana, como ingestão de água contaminada ou condições sanitárias inadequadas. Mais 70 milhões vivem em ambientes onde a fumaça do fogo com que se cozinha causa danos à saúde.
Custa crer que se trata do mesmo mundo onde se fala em Internet, globalização e emancipação democrática crescente. Pois é nesse mesmo mundo, onde se multiplicam as telas iluminadas de virtualidade digital, que ainda vivem cidadãos miseráveis, 70% mulheres e crianças, numa inaceitável idade das cavernas.
A busca de soluções para os problemas urbanos elementares continua na agenda de um mundo que se industrializou com velocidade surpreendente nos últimos 100 anos e em que as populações urbanas cresceram a taxas sem precedentes.
Será de 3 a 14 de junho, em Istambul, a conferência Habitat 2, patrocinada pela ONU. A Folha publicou ontem caderno que trata dessas questões e revela um mundo sem teto. Há questões políticas intricadas em jogo. Japão, Coréia e Estados Unidos recusam-se a reconhecer que a moradia é um direito a ser incluído na agenda da conferência.
Eles se negam a ver a moradia como direito do homem. Os países desenvolvidos são também reticentes quando se trata de criar fundos para apoiar a solução de problemas urbanos no mundo subdesenvolvido.
A conferência ocorre às vésperas das eleições municipais brasileiras. Esse é portanto um bom momento para os nossos políticos refletirem sobre as soluções possíveis, criativas e solidárias de redução da desigualdade e humanização das cidades.
Afinal, tão deplorável quanto a caverna-moradia é a caverna mental em que tantos estão ainda aprisionados.

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