São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 1996
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Atacado amortece alta de alimentos

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os preços de produtos agrícolas estão subindo bem acima da inflação neste mês, embora poucos estejam se dando conta do fato.
A razão é que a alta -que no caso do feijão chegou a 7,5% em 30 dias- ficou no meio do caminho entre o produtor e o consumidor.
Quem está absorvendo o impacto, por enquanto, é o atacadista. Ele não estaria repassando o reajuste imposto pelo produtor agrícola.
A estratégia tem sido apostar no giro mais rápido da mercadoria, mesmo que para isso a margem de lucro tenha que ser reduzida.
Com isso, o atacadista procura escapar dos juros altos dos empréstimos bancários, que seriam necessários para reter por mais tempo os estoques.
Hoje os juros para capital de giro variam entre 7% e 9% ao mês.
"É melhor vender por um preço menor do que ter produto parado no estoque", diz Manuel da Costa Pereira, presidente da Abrace (Associação Brasileira de Cerealistas).
Segundo Costa Pereira, há dez anos essa "ginástica financeira" do atacado não ocorria de forma tão intensa.
José Petrucio Sobral, cerealista da Comércio de Cereais Flor do Campo, que vende feijão e farinha, confirma a estratégia.
Ele conta, por exemplo, que hoje paga por uma saca (60 quilos) de feijão entre R$ 50 e R$ 55 e vende para os supermercados por R$ 32 o fardo de 30 quilos do produto já beneficiado.
"Estou só empatando." Segundo ele, o preço ideal para cobrir os custo e manter a margem de lucro estaria entre R$ 38 e R$ 40.
Segundo Pereira, a necessidade de vender rápido está fazendo com que a maioria dos cerealistas cortem pela metade a margem de comercialização embutida no preço.
"Se antes a margem era de 8%, agora está entre 3% e 4%", diz ele.
Fernando Homem de Melo, economista da Universidade de São Paulo, diz que essa diferença entre os aumentos de preços no campo, no atacado e no varejo revela que o atacado trabalha com margens elevadas.
Além disso, o economista diz que o que segura os aumentos dos produtos agrícolas no atacado é a procura mais contida.
"A economia não está aquecida. O desemprego é alto e os atacadistas não conseguem repassar para os consumidor os aumentos", afirma Homem de Melo.
Para se defender dos juros, os atacadistas, segundo Sobral, estão também preferindo vender para os supermercados que pagam em um prazo mais curto.
É que os bancos não estão descontando duplicatas de empresas que já completaram uma cota pré-estabelecida para o mês. "Por causa da inadimplência (atraso no pagamento) elevada, os bancos dizem que estão mais seletivos na hora de emprestar o dinheiro. E os bons pagadores estão pagando pelos maus empresários", diz Sobral.

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