São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 1996
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"Não sou o novo John Lennon", diz Noel

JOE JACKSON

LÚCIO RIBEIRO; JOE JACKSON
DA INTERNATIONAL FEATURE AGENCY

Em entrevista em Dublin, o guitarrista e líder da banda inglesa fala sobre o sucesso e a influência dos Beatles

O guitarrista e líder do Oasis Noel Gallagher não esconde que o sangue beatle que corre em suas veias dá o tom característico ao "perfect pop" que emana das canções de sua banda. E não está nem aí para isso.
"Depois que os Beatles apareceram, a música nunca deixou de ter influência deles. E nunca mais vai deixar de ter", disse Noel, numa entrevista no hotel Westbury em Dublin, Irlanda, que viveu uma crise de identidade num sábado à tarde em março deste ano, quando o Oasis tocou na cidade.
Normalmente embalados pelas valsas de Strauss, os calmos corredores do hotel ficaram tomados por walkie-talkies, seguranças, calças jeans, camisetas. Sem falar nas centenas de adolescentes, que se esgoelavam do lado de fora do hotel cada vez que a porta principal se abria.
"Nada mais é original na música", afirmou Noel Gallagher, voltando ao assunto Oasis/Beatles.
"Existem cerca de 30 acordes numa guitarra e todas as variações já foram feitas antes. Pergunte ao Keith Richards. Ele vai te explicar isso", ironizou Noel, soltando as farpas na direção do guitarrista dos Rolling Stones, "acusado" de beber na fonte de Chuck Berry.
Sucesso Este certamente é o modo como Noel Gallagher vê as coisas. Estaria ele errado?
Afinal, se em 93 ele trabalhava como roadie de outra banda de Manchester, o Inspiral Carpets, hoje graças a sua música ele passeia pelas ruas de sua cidade à bordo de um Rolls Royce, presente que ganhou da gravadora Creation no último Natal.
"É claro que eu gosto do sucesso. Mas eu perdi minha liberdade no momento em que aprendi a escrever canções. Agora eu estou preso à minha guitarra pra sempre", sentenciou o líder do Oasis.
"Qualquer um pode chegar pra mim e dizer: 'Você é o novo John Lennon'. Só que eu não sou o John Lennon. Ninguém nunca vai ser", afirmou.

Drogas "Há algo em que eu sou muito diferente dele", continua Noel.
"Ninguém no mundo é mais fã do John do que eu, certo? Mas ele era viciado em heroína. E eu nunca precisei cair na heroína só porque ele consumia, porque isso acaba com as pessoas. Nossas 'viagens' não são as mesmas", afirmou Gallagher.
Além de Lennon, Noel aponta outro compositor que tem marcada influência sobre suas composições: Burt Bacharach.
"Eu roubei alguns acordes de uma música de Burt, 'This Guy's in Love With You', e botei na minha 'Half the World Away' (do single 'Whatever')", confessa Noel, sem deixar de enfatizar que tirou mais mesmo dos Beatles.
"O John e o Paul escreveram as principais canções da história da música. Pegue as 50 maiores canções escritas até hoje: os Beatles fizeram 49 delas."
Então nos diga, Noel: qual a quinquagésima grande música da história? "'Wonderwall', do Oasis", responde, rindo.
Lembrando o escritor argentino Jorge Luis Borges, cada obra cria seus predecessores, e não os sucessores. Depois de ouvir as canções do Oasis, dá para sentir melhor a genialidade dos Beatles.
colaborou Lúcio Ribeiro, da Redação

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