São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 1996
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Direita explora medo e fecha campanha

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

É eloquente a charge publicada ontem no jornal "The Jerusalem Post", conservador e que mal disfarça sua simpatia pela candidatura de Binyamin Netanyahu a primeiro-ministro de Israel no pleito de amanhã.
Mostra três terroristas árabes armados até os dentes, prontos para sair por uma porta na qual se lê a palavra "Hamas", o grupo radical islâmico responsável por boa parte do terrorismo contra alvos judeus.
Um quarto personagem olha o relógio e diz: "Paciência, paciência, mais 2 dias, 14 horas, 8 minutos e 43 segundos e as eleições terão passado...".
O desenho diz mais do que mil palavras sobre a estratégia da direita israelense para a reta final da campanha: jogar a carta do medo.
À falta, até agora, do atentado tão temido e que, em tese, decidiria a eleição a favor de "Bibi", como Netanyahu é conhecido, a direita avisa que o terror pode vir no imediato pós-pleito.
É sintomático, a propósito, que o próprio "Bibi" tenha usado 11 vezes a palavra "medo" nos 14 minutos de seu tempo no debate mantido anteontem com o seu rival, o premiê Shimon Peres.
Comenta Nachum Barnea, colunista do "Yedioth Ahronot", o jornal de maior circulação em Israel: "Netanyahu, me parece, ganhou. Ele ganhou porque jogou toda a sua força verbal em cima de uma carta: medo".
Eliyahu Ben-Elissar, ex-membro do Mossad, o serviço de inteligência de Israel, deputado do Likud (a coalizão conservadora que lançou "Bibi"), insistiu na carta: "Sim, os israelenses estão com medo. Há pessoas que não ousam ir comigo a certas partes de Jerusalém".
O remédio proposto pelo Likud para o medo é radical: impor aos terroristas a certeza de punição, onde quer que se escondam.
"Não vamos tomar Gaza de volta, mas também não vamos permitir que sirva de abrigo para terroristas", avisa Elissar, referindo-se à área que serve de base do Hamas.
Resposta de Peres, na sua última frase antes da votação, já que a campanha se encerrou oficialmente ontem: "Seria terrível se o processo de paz fosse interrompido".
"Paz responsável"
"Bibi" contra-atacou com o seu slogan virtualmente oficial: diz que vai continuar o processo de paz, mas de "modo responsável".
É um código para voltar ao tema do medo. "Responsável", no jargão do Likud, significa dar prioridade à segurança dos israelenses.
Difícil dizer se a estratégia do medo dará ou não a vitória ao Likud. As pesquisas sobre o debate revelam resultados contraditórios.
No jornal "Maariv", Peres foi mais convincente para 42% dos pesquisados, enquanto 38% preferiram "Bibi". Já no "Yedioth Ahronot", deu "Bibi": 45% a 41%.
O "Yedioth Ahronot" também quis saber quem mudaria de voto em função do debate. Só 6,1% disseram que sim, com vantagem para "Bibi". Outros 3,7% trocariam o premiê por seu desafiante, enquanto 2,4% fariam o inverso.
As pesquisas mais recentes, não sobre o debate, mas sobre intenção de voto, mantêm a incerteza. O "Yedioth Ahronot" publica duas e, em ambas, ganha Peres.
Mas a margem é mínima: 4 pontos numa delas (50,5% x 46,5%), igual à pesquisa anterior, e 2,4 pontos na outra (49,5% x 47,1%).
Nesta, "Bibi" subiu 2,1 pontos sobre a pesquisa anterior, e Peres caiu 1,5 ponto. Se indicar uma tendência, só reforça a sensação de que a batalha será voto a voto.

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