São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 1996 |
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FHC e Descartes
FERNANDO RODRIGUES Brasília - A principal discussão política em Brasília é sobre como FHC conciliará a necessidade de reformas da Constituição com a política de fisiologismo.O presidente já disse que não vai ceder a interesses paroquiais. Mas quer a reforma. É uma espécie de sinuca de bico, de difícil saída. Com o risco de ser pedante e kitsch ao mesmo tempo, esta coluna quer aproveitar a passagem de FHC pela França para citar o pensamento de um filósofo daquele país, René Descartes (1596-1650). O kitsch fica por conta de uma citação de segunda mão, retirada do livro de filosofia popular "O mundo de Sofia" (Cia das Letras, 555 págs., 1996). Na sua página 259, o livro de Jostein Gaarder cita Descartes dizendo que "entre a realidade exterior e a realidade dos pensamentos existe uma diferença fundamental". A explicação poderia muito bem ser aplicada ao dilema atual do presidente da República. É didático acompanhar mais um pouco o raciocínio: "Existem duas formas distintas de realidade, ou duas substâncias. A primeira substância é o pensamento, ou a alma, a outra é a extensão, ou a matéria." "A alma é a consciência pura, não ocupa lugar no espaço e, portanto, não pode ser decomposta em unidades menores. A matéria, ao contrário, é só extensão, ocupa lugar no espaço e pode por isso ser decomposta em partes menores, mas não possui consciência." Para resumir: "Trata-se de duas substâncias completamente independentes uma da outra. O pensamento é livre na sua relação com a matéria, e vice-versa: os processos materiais também operam de forma totalmente independente". Talvez seja essa a explicação que FHC procura. Quer convencer a todos que tem a consciência pura. Mas que a extensão do que pensa, a matéria, decompõe-se em pedaços menores, fisiológicos. Filosofia pura. Texto Anterior: Corajosa covardia Próximo Texto: ONGs Índice |
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