São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 1996
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ONGs

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - Há uma polêmica em curso aqui no Rio que poderia conduzir ao aprimoramento dos mecanismos democráticos, mas que vai apenas enveredar no pantanoso terreno das intrigas e demandas.
Começou com uma declaração do general da reserva e secretário da Segurança Pública do Rio, Nilton Cerqueira. Semana passada, o general atirou contra o Movimento Viva Rio e as organizações não-governamentais em geral.
Disse que "peixe precisa de água para viver. Os peixes são os traficantes e os aquários são essas ONGs".
O general citou como exemplo a inclusão do nome do historiador, líder comunitário e membro do Viva Rio Itamar Silva como testemunha de defesa de um suposto traficante da favela Dona Marta. Silva afirmou que seu nome foi incluído na lista de testemunhas à sua revelia e que não vai depor no processo.
Mas a questão é ONGs-bandidos.
Antes de atirar para todos os lados -e receber de volta o protesto de gente de peso, ligada às ONGs- o general deveria ter ido direto ao ponto. Apresentando provas das ligações com criminosos e tomando as providências legais cabíveis.
Afinal, ele é o comandante das polícias militar e civil do Rio, ambas habilitadas a investigar e obrigadas a municiar seu dirigente com informações precisas.
Não há dúvida de que inúmeras dessas organizações são de fachada, servem quando muito de sustento a seus dirigentes.
Mas sua existência faz parte do jogo democrático, e as apóia, financiando-as, quem pode e quer. Quanto ao envolvimento com criminosos, isso é caso de polícia, e Nilton Cerqueira é o chefe da polícia.
Portanto, em vez de detonar uma saudável discussão sobre ONGs e seu papel social, onde estão as boas e as más organizações, Cerqueira apenas generalizou. Sem benefício para ninguém.

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