São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 1996
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Olha a inflação que vem por aí

ALOYSIO BIONDI

O governo FHC continua a brincar de Poliana, mantendo falso otimismo diante de problemas que, por isso mesmo (por falta de providências), se agravam -e criam novos problemas para empresas, população e economia.
Veja-se o caso da inflação. As Polianas de Brasília se entusiasmaram tanto com as baixas taxas do começo do ano que passaram a prever índices em torno ou abaixo de 1% para os meses seguintes.
Acreditaram tanto nisso que até decidiram rever o Orçamento da União para baixo, apostando em uma taxa de inflação na faixa dos 12% para este ano.
Quando os índices voltaram ao nível de 1,5% nas últimas semanas, reagiram como sempre, prevendo "breve recuo".
Além de "polianismo crônico", a equipe FHC mostra total incompetência, incapacidade de fazer análises e projeções que mostrem o que vai acontecer a médio prazo -e não na semana, ou no dia-a-dia.
A médio prazo, todos os fatores mostram que a inflação vai subir, passando da taxa dos 2% ao mês ao longo do segundo semestre.
Na área de alimentos, o desastre vai ser total, já a partir destas semanas -como esta coluna cansou de advertir.
O pico da comercialização das colheitas, de março a maio, está acabando. A partir de agora, o mercado deveria ser alimentado pelos estoques -e eles são baixíssimos ou simplesmente não existem.
O governo diz que seu nível é suficiente para amortecer o ritmo de alta de preços. Ou está mentindo ou não sabe o que está dizendo.
Ainda na segunda-feira, nesta Folha, porta-voz da equipe FHC dizia que os estoques do governo chegam a 8 milhões de toneladas, dos quais 40 mil de feijão, 1,6 milhão de arroz e 5 milhões de milho.
A equipe FHC está fazendo nova trapalhada, ignorando que os estoques reguladores são sobras de outras safras.
Os "estoques", já em si ridículos, de que o porta-voz está falando nada mais são do que os produtos da colheita deste próprio ano de 1996 para serem consumidos na entressafra, isto é, de julho de 96 até a próxima colheita, em março/abril de 97.
O governo, na verdade, não tem estoques "reguladores, velhos". Não tem como segurar preços no segundo semestre. Eles vão subir. E há outros fatores pressionando a taxa de inflação.
Para junho
As vendas do Dia das Mães e o inverno provocaram alta de 2,5% no índice de preços do comércio de São Paulo na terceira quadrissemana de maio.
No mesmo período, segundo a FGV, os alimentos subiram 7% no atacado. Pressão sobre a taxa de inflação de junho.
Haja calor
Já se sabe: o inverno de 1996 vai ser marcado por geadas. Vale dizer: destruição e alta de preços de verduras e legumes, bem como do café. Sem falar na persistência de alta para roupas de inverno e eletrodomésticos, como aquecedores.
Em alta
A partir de agora, o abastecimento de carne bovina será afetado pela queima das pastagens -e o milho para alimentar o gado está com preços pela hora da morte. Carnes suínas e frangos já encareceram, porque os preços achatados do começo do ano levaram a abate precoce e redução das criações.
Tarifas
Em junho, os índices serão engordados também pelas tarifas de ônibus, reajustadas em várias capitais neste mês de maio. A elas vão somar-se os aumentos de custo da energia elétrica em vários Estados.
Salário mínimo
A alta do custo da alimentação e o aumento das tarifas de ônibus vão reduzir rapidamente, e violentamente, o poder de compra dos trabalhadores que ganham os menores salários.
Um governo sensato pensaria desde já em rever o salário mínimo a partir de agosto, já que o reajuste de 12% em maio se baseou em previsões de inflação baixa. "Poliânicas".

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