São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Finalmente, há o que ler sobre os esportes

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, ainda não fui ver, espero ver, a exposição que o Sesc Itaquera faz em homenagem ao dr. Eduardo Gonçalves de Andrade, ou melhor, o Tostão.
Para a molecada que não pôde vê-lo -parou a sua carreira aos 26 anos, imagine que disparate do destino-, valerá a pena ir conhecer as imagens daquele jogador de fronte elevada, como que a ostentar uma inteligência ostensiva.
(Desconfio que Tostão era o "águia de Haia", o Ruy Barbosa do nosso futebol).
Olhando as imagens do catálogo da exposição, lembro-me que a geração de Tostão praticamente descentralizou o futebol brasileiro: tirou as atenções do exclusivismo da ponte-aérea Maracanã-Pacaembu e mostrou que, no futebol, Minas não estava mais onde sempre esteve.
Havia um belo futebol em Minas. Mais: havia uma lindíssima camisa azul com cinco estrelas, que, nos meus tempos de peladas na USP, o fotógrafo Bob Wolfenson vestia.
E, ainda, qual um vanguardista russo, havia a camisa amarela do goleiro Raul, modernidade absoluta no nosso futebol, o sereno e gentil Raul -com o qual tentei dividir alguns comentários de jogos.
Que o olho tenha afastado do futebol alguém com a tanta visão de jogo, como tinha Tostão, é algo que só os segredos dos pés poderão explicar.
Perdeu-se um pelejador. Ganhamos um sensato, objetivo e esclarecedor analista de futebol. Perdeu-se o olho do campo. Ganhamos uma nova maneira de olhar o futebol.
*
Aumenta a literatura esportiva no Brasil, o que é duca. Registro ainda o lançamento de "De Atenas a Atlanta: 100 anos de Olimpíadas", de Maurício Cardoso (Scritta) e "As Olimpíadas na Grécia Antiga", de Gilda Naécia Maciel de Barros (Pioneira).
Olhaí, moçadinha, esporte não é só jogar ou olhar. É também conhecer. Olho no lance.
*
Por falar em literatura esportiva, o nosso Marco Aurélio Klein volta de Londres impressionado com a quantidade de livros sobre futebol que existe no mercado britânico.
Marco Aurélio joga na minha mão um livro curiosíssimo, que trata da questão da violência entre os torcedores ingleses -o "ruliganismo", você sabe, é uma das pragas do fut de lá, ao lado do chutão.
O tema de "Everywhere We Go" (Headline) é conhecido. Mas o livro de Dougie e Eddy Brimson procura escrever sobre a violência do ponto de vista do torcedor.
Tentam mostrar que a coisa não é tão feia assim como a imprensa pinta. Sei não. Será?
Já condenando explicitamente a violência nos estádios, sai por aqui a coletânea "A Violência no Esporte", editada pela Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania.
Enfim, há o que ler. Viva.

Texto Anterior: Portuguesa procura evitar 'desmanche'
Próximo Texto: Egotrip
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.