São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 1996
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No palco, o obscuro Bergman faz rir

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ingmar Bergman, o cineasta sueco de histórias pouco esperançosas e roteiros cerebrais, sofre uma metamorfose no palco. Faz rir. Sem o impacto das imagens na tela grande, sem closes ou paisagens obscuras, o texto "Cenas de um Casamento", de sua autoria, se torna uma comédia.
Baseada no filme com o mesmo nome, a peça já foi encenada em diversas partes do mundo -França, Canadá, Argentina. Provocou, sempre, risadas. Em São Paulo, a peça estréia hoje, com Regina Braga e Tony Ramos, dirigidos por Vivien Buckup. Em pré-estréias, fechadas, também já mostrou que vai seguir o mesmo destino. Risadas.
O que acontece? Regina Braga, responsável por ter trazido "Cenas" ao país, acredita que a identificação de situações da vida particular leva os espectadores ao riso. A platéia consegue ver, sob as luzes do palco, cenas de suas próprias existências, que eram por assim dizer invisíveis no escuro do cinema.
Talvez seja indecidível a questão sobre qual é a melhor versão -palco ou tela. Mas o próprio Bergman parece ter feito sua escolha ao abandonar de vez o set de filmagens em favor das coxias teatrais. Hoje, só escreve e dirige teatro.
São apenas dois personagens, um casal, João e Mariana, com idade em torno de 40 anos. Classe média. O fato central: João se apaixona por uma jovem de 20 anos e deixa a mulher. Eles se divorciam, em meio a uma tempestade sentimental.
Anos depois, a relação entre ambos -já casados cada um com outra pessoa- é retomada, mas de forma surpreendente.
Uma história comum, não fosse escrita por Bergman. É com tais personagens, medianos em tudo, que ele reflete sobre a fragilidade frente ao mundo, as dependências afetivas para suportar o cotidiano neurótico, a culpa, os destinos pouco grandiosos do homem moderno.
É esse fundo existencial que permite à peça se converter, em cada país, numa peça local. E, nesse sentido, apenas no teatro "Cenas de um Casamento" pode passar por essa transmutação.
Texto à procura de uma linguagem, "Cenas" foi feita primeiro para a TV, antes de ir para o cinema e chegar ao teatro.
Esse caminho indica também que Bergman captou um dos sentidos da globalização: contra a homogeneização das mercadorias, a cultura se universaliza quanto mais se torna local. E aí o teatro, frente à TV e ao cinema, tem franca vantagem.

Peça: Cenas de um Casamento, de Ingmar Bergman
Direção: Vivien Buckup
Com: Regina Braga e Tony Ramos
Onde: Sala São Luiz (av. Presidente Juscelino Kubitschek, 1.830, tel. 011/827-4111) Quando: estréia hoje, às 21h
Quanto: R$ 25 a R$ 30.

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