São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 1996
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Pesquisas dão pequena vantagem a Peres

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

Pesquisas de boca de urna, divulgadas pela TV israelense, davam a vitória ao atual primeiro-ministro Shimon Peres, mas com margem tão reduzida que, até 1h30 de hoje (19h30 de ontem em Brasília), ninguém se arriscava a prever o resultado final.
Na pesquisa do Canal 1, a vantagem de Peres era de 1,2 ponto percentual (50,6% contra 49,4% para Binyamin Netanyahu ("Bibi"), candidato da coligação conservadora Likud-Tsomet-Gesher.
Os primeiros resultados da apuração (10% dos votos) davam a Peres 55,4% e 44,5% para "Bibi".
O resultado, na prática, configura um impasse, para o que contribuem dois elementos adicionais:
1 - Uma eventual vitória de Peres deve-se, principalmente, ao voto dos árabes com cidadania israelense (14% do eleitorado). O que significa que, entre os judeus (que são maioria), o premiê é minoritário, com as consequências políticas decorrentes.
2 - No Knesset (Parlamento), de 120 lugares, houve grande fragmentação, a ponto de o Partido Trabalhista de Peres ter caído de 44 assentos para 37, de acordo com projeções da TV israelense.
Isso significa uma complicada negociação para compor uma maioria (61 votos) no Parlamento, se se confirmar a vitória de Peres.
Para chegar a esse número, Peres terá de formar uma coalizão que, guardadas as proporções, se assemelhará à que apóia o presidente Fernando Henrique no Brasil.
Terá que somar a seu partido (centrista), o Meretz, de centro-esquerda, partidos religiosos, em geral conservadores, o novo partido Terceira Via, também centrista, os partidos árabes e até o Israel Baliya (dos imigrantes da ex-URSS).
São partidos com visões diferentes sobre o processo de paz. De toda forma, é unânime a avaliação de que a divisão do eleitorado não provocará impasse também no Knesset.
Se Peres não conseguir a maioria para formar um governo nos próximos 45 dias, será convocada nova eleição, no máximo em 60 dias.
Mas Zevulun Hammer, líder do Partido Nacional Religioso, que representa os ortodoxos mais modernos, já deu o primeiro sinal de que aceita compor com Peres.
"Sinto-me próximo de ser ministro da Educação e acho que o partido desempenhará um significativo papel no próximo governo", disse Hammer.
Também Arieh Deri, líder do Shas, partido dos judeus orientais, calculou que "Peres tem grande chance de estabelecer um governo com 70 a 80 votos no Parlamento".
Haim Oron (Meretz, hoje coligado com os trabalhistas) já antecipou que os partidos árabes serão chamados a participar do governo.
"Acho que um pacto real forjou-se entre os árabes e nós, o que nos compromete", disse Oron.
Tanto que, na festa que os trabalhistas fizeram com o anúncio da boca de urna, o ministro Uzi Baram pediu "aplausos para os eleitores árabes".
A diferença era tão insignificante que o Canal 1 da TV israelense estudou adiar a divulgação da pesquisa anunciada para as 22h (16h em Brasília), o exato horário em que as urnas se fecharam.
Mina Tsemach, a pesquisadora do Canal 1, insistiu que a diferença era pequena demais e que ela não se sentia em condições de projetar o vencedor pelo menos por algumas horas mais.
Outro pesquisador, Avi Degani (Instituto Geocartográfico), preferiu chamar a atenção para o fato de que o voto dos soldados não fora computado na boca de urna, o que poderia mudar o resultado.
Os militantes trabalhistas, concentrados no seu QG, o Cinerama, em Tel Aviv, não deram a menor atenção às advertências.
Assim que foi divulgada a primeira boca de urna (50,7% para Peres e 49,3% para "Bibi") explodiram em gritos de "'Bibi', engula o resultado", agitando as bandeiras vermelhas do partido e, em muito maior número, as de Israel.
Mas Nissim Zvilli, secretário-geral trabalhista, cauteloso, preferiu aconselhar Peres a permanecer em casa, aguardando um resultado mais consolidado, mesmo após o Canal 2 ter apontado um placar mais favorável ao premiê, na sua própria boca de urna (52% a 48%).
No centro de campanha do Likud, fez-se silêncio até que "Bibi" decidiu falar. Pediu paciência, dizendo ser muito cedo para saber quem ganhara.

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