São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 1996
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Ascensão e queda de S. Bernardo

WILLIAM DIB

Terminada a Segunda Guerra Mundial, teve início nova fase na economia brasileira, com uma política de incentivo à indústria. Instalaram-se no país as primeiras multinacionais. O crescimento é vigoroso. Depois, no governo JK, deu-se impulso à modernização industrial. À frente do processo estava o parque automotivo paulista, no ABC. No plano social, a consequência é o surgimento de uma classe operária numerosa e um fluxo de migração para a região metropolitana.
São Bernardo do Campo foi um dos municípios que vivenciaram mais intensamente aquela fase. Até a década de 70, a cidade equilibrou os benefícios (desenvolvimento econômico) e dificuldades (expansão demográfica e suas consequências) da industrialização. Nos últimos 20 anos, porém, passou a enfrentar uma deterioração paulatina. Ao mesmo tempo, várias crises econômicas nacionais atingiram a indústria e a má gestão político-administrativa na prefeitura local agravou os problemas.
A omissão na promoção da harmonia entre capital e trabalho levou à migração de empresas; a falta de programas de capacitação profissional provocou a "importação" de mão-de-obra. Além disso, não há iniciativas para atrair empresas ao município, embora ele tenha infra-estrutura adequada à indústria e um grande mercado para o comércio e os serviços. Nesse momento em que o desemprego cresce no país, a situação local piora. Outro problema grave é o fato de a cidade não ter avançado proporcionalmente à expansão demográfica, em termos de infra-estrutura urbana, serviços públicos e atendimento social. Hoje, há mais de 650 mil habitantes, que enfrentam sérios problemas: crianças abandonadas, criminalidade, desemprego, favelas, falta de água, esgotos e moradias e o abandono de uma parcela populacional expressiva à situação de miséria.
O mundo e o Brasil passam por uma transformação fulminante, que exige novas posturas. Capital e trabalho não devem ser antagônicos, mas sim parceiros na promoção do desenvolvimento. O poder público deve trabalhar em sintonia com a sociedade. Nações, Estados, municípios e empresas que ignorarem essa realidade estarão relegados a segundo plano. É isso que ocorre com São Bernardo, que vive um processo de deterioração muito mais grave do que outros municípios brasileiros, paulistas e do próprio ABCD, inseridos no mesmo cenário socioeconômico. Por isso, a cidade precisa urgentemente de um verdadeiro pacto entre todos os segmentos da sociedade e do poder público, para retomar o crescimento e resgatar sua dívida social.

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