São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Prefeitos querem ter voz na ONU

MAURICIO STYCER
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL

As cidades querem ter cadeira e voz na ONU. Esse é o sonho dos participantes da Assembléia Mundial de Cidades e Autoridades Locais, que se encerra hoje em Istambul, às vésperas da Habitat 2, a Conferência de Assentamentos Humanos promovida pela ONU.
Para pleitear um lugar nas Nações Unidas, os prefeitos precisam primeiro se organizar. Por isso, esta primeira Assembléia Mundial de Cidades pode decidir hoje pela criação de uma federação mundial de cidades, com um secretariado independente e um presidente eleito por seus membros.
"A ONU diz que está aberta a nos receber. Se criarmos uma federação, eles não poderão dizer não à nossa presença", disse à Folha o francês Michel Giraud.
Giraud preside há 20 anos o Conselho Regional da Île-de-France, região metropolitana de Paris, além da Metropolis, uma das organizadoras da assembléia.
"Nossa participação na ONU não é uma utopia. É um ponto essencial. O desenvolvimento sustentável do planeta depende de políticas para resolver problemas administrados em nível municipal."
O prefeito de Lisboa, João Soares, apóia a proposta de Giraud e vai mais longe. "Acho que as autoridades locais deveriam contribuir financeiramente com a ONU como forma de afirmar a sua maioridade", disse Soares à Folha.
Autonomia
Além da autonomia política em relação aos Estados nacionais, os prefeitos também querem autonomia financeira. Em outras palavras, querem receber empréstimos internacionais diretamente, sem entraves.
No plenário da Assembléia, a posição foi endossada pelo prefeito de Tóquio, Yukio Aoshima. "As autoridades locais precisam ter voz junto aos órgãos internacionais", diz.
O prefeito de Istambul, Tayyip Erdogan, anfitrião do encontro também bateu na mesma tecla: "A solução local é a única possível para resolver os preoblemas globais. AONU não deve cometer o erro de ditar uma solução no Habitat 2".
Portunhol e Baudelaire
Misturando português e espanhol, o prefeito do Rio, César Maia, discursou após o prefeito de Tóquio. Maia citou o poeta francês Baudelaire ao falar dos "conflitos do mundo civilizado" e defendeu o "direito de acesso à cidade".
Segundo Maia, mais complexo que o direito à moradia é o direito de "viver na cidade em consonância com as exigências da vida moderna", com acesso a água, esgoto, eletricidade, transporte, educação, saúde, limpeza, lazer e trabalho.

Texto Anterior: Conveniada reclama de neurologista
Próximo Texto: CRIANÇAS
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.