São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 1996 |
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O Brasil precisa de Romário, 'o enganador'
JOÃO NOGUEIRA
Ele é carismático, imprescindível para qualquer time brasileiro e, talvez, do exterior. Romário mistura o jogador moderno com o jogador antigo. Às vezes é lento, noutras é rápido demais. Isso deixa o adversário maluco. Ele é matreiro, parece que se esconde na partida. Mas, se a bola for no pé dele e ele dominar, fica difícil de tomar. No Brasil, os zagueiros conseguem marcar o Romário. Mas, quando você pega o Romário e o manda para Barcelona, para a festa dos melhores jogadores do mundo, ele mete quatro. O estrangeiro não consegue marcá-lo. O Romário é um enganador, mas um enganador no bom sentido. Ele fica lento em campo. Automaticamente, o marcador começa a ficar lento porque futebol é ritmo. Romário bota a mão nas cadeiras, coisa e tal, e amolece o cara. Daqui a pouco, alguém dá uma bola para o Romário, ele parte em altíssima velocidade e o adversário já era. Os marcadores brasileiros já notaram e ficam espertos, mas os gringos não sabem disso ainda. Aí ele faz os gols, que são o fundamento principal do futebol, embora não o mais bonito, mas o que emociona mais e leva você à loucura. Fala-se sobre disciplina, mas eu acompanho o Romário e não conheço indisciplina dele. Nas quatro linhas ele é um jogador superdisciplinado, que não reclama nem de porrada. No futebol, ele é disciplinado. Mas tem 30 anos, tem uma grana preta no bolso, as mulheres gostam dele, e ele tem mais é que aproveitar a vida. Depois fica velho, ídolo e não come ninguém. Quer dizer, a cobrança sobre o Romário é fora das quatro linhas. O Zagallo não pode ter esse medo porque foi supervisor dele na Copa do Mundo. Eu não lembro de nenhum caso que o Romário tenha criado lá. Ele é um jogador que tem personalidade, o que tem que falar ele fala e isso é legal. Futebol, para o jogador, já é meio que uma escravidão, é uma coisa espartana de treinar tal hora, trocar de calção a tantas horas, concentrar... É um negócio meio militar. Se Romário não tiver personalidade, vai passar a época toda dele como jogador de futebol, menino bonzinho. Tem cara que não aguenta ficar de bom garoto porque sabe que no futebol tem muita mutreta. O jogador está ali, vendo as coisas acontecerem. Seria muito legal ver o Romário com o Sávio na Olimpíada, o ataque do Flamengo. Sou rubro-negro. Desconfio que existe certa má vontade de escalar jogador do Flamengo. Fico pensando que o lateral-esquerdo da seleção era o Nelsinho, do São Paulo. Aí, o Flamengo trocou o Nelsinho pelo Leonardo. No ano seguinte, o lateral da seleção era o Leonardo. Não sei se foi porque o Nelsinho tinha ido para o Flamengo. E olha que o Leonardo já jogava muito mais bola que o Nelsinho há muito tempo. Texto Anterior: Treinador emprega filho no Corinthians Próximo Texto: Técnicos Índice |
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