São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 1996
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Promessas do cinema têm patrocínio negado

DANIELA ROCHA
ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA

A nova geração de diretores de cinema considerada de talentos emergentes em seus países têm uma dificuldade em comum: conseguir dinheiro para suas produções, não importa se vivem na América Latina ou na Europa.
Três dos cinco diretores que participam da Mostra Internacional de Novos Talentos do 6º Cine Ceará -que termina hoje, em Fortaleza- vieram ao Brasil para apresentar seus filmes.
A Folha reuniu o mexicano Juan Carlos de Llaca, que fez "En el Aire", o escocês David Hayman, de "The Near Room", e o argentino Diego Musiak, de "Fotos del Alma" (leia sobre os filmes nesta página), para uma discussão sobre os rumos do cinema independente nos seus países de origem, as dificuldades que enfrentaram e o que pretendem com seus filmes.
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Folha - Do que tratam seus filmes?
Diego Musiak - Meu filme, o "Fotos del Alma", é o primeiro argentino sobre Aids. A idéia foi mobilizar a discussão sobre o tema, que até hoje, foi tratado pelo cinema argentino como se não existisse.
David Hayman - Faço filmes que provocam o público. "The Near Room" é um thriller que mexe com questões sociais, morais e políticas. Quero que o público ame ou odeie a história que estou contando. Busco escapar da apatia. Sou como uma pedra no sapato para muita gente em meu país.
Juan Carlos de Llaca - Com "En el Aire", quero provocar um questionamento nas pessoas sobre o comodismo versus a nossa capacidade de mudar, de evoluir.
Folha - Qual foi o orçamento do filme de vocês?
Musiak - 500 mil dólares.
Llaca - Cerca de 400 mil dólares.
Hayman - O meu filme custou pouco mais que isso, 600 mil dólares, o que é considerado na Europa um filme de custo zero.
Folha - Qual a maior dificuldade para produzir seus filmes?
Musiak - Dinheiro. Não existe investimento em nomes desconhecidos. Consegui patrocínios com muita luta e, ainda assim, tive que vender minha casa para saldar as dívidas. Mas cinema prova ser tão viável que já recuperei dinheiro suficiente para iniciar um novo projeto e comprei uma nova casa.
Hayman - A maior dificuldade é financeira. Empresário algum da Escócia ou Inglaterra quer investir em um filme polêmico. Para sustentar minha família preciso fazer trabalhos na televisão e no teatro. Não sou do "mainstream", não conto histórias hollywoodianas. Busco entreter e também educar ou desafiar o público com meus filmes. É um exercício difícil e frustrante, porque tenho pilhas de projetos que não consigo realizar.
Llaca - Sem dúvida foi o financiamento. Não ganhei dinheiro até agora com meus filmes. Mas vou continuar escrevendo roteiros e dirigindo por paixão.

A jornalista Daniela Rocha viajou a Fortaleza a convite da organização do 6º Cine Ceará

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