São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 1996
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Noite revela sonoridades ocultas

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

A platéia que compareceu à primeira noite do Nescafé & Blues ouviu mais do que viu. Com formações econômicas, as principais atrações simularam sonoridades possíveis só em grupos maiores.
Assim foi com John Hammond, que, apenas com violão, voz e gaita, conseguiu contar cem anos de história do blues sem que baixo e bateria fizessem falta.
O mesmo se deu com Duke Robillard. Com sessão rítmica e um saxofonista, ele passeou pelas texturas de uma big band do jazz.
Grande surpresa, a banda brasileira Blue Jeans revelou Junior Moreno, um baterista que canta e toca gaita. E faz tudo isso bem.
Enquanto Moreno faz suas estripulias, Marco Ottaviano -guitarrista com muito bom gosto para timbres- e Cleber Alves -baixista preciso e de poucas firulas- mantêm a casa em pé.
Usina sonora
Com a cara de quem carrega as dores do mundo, Hammond provou que é uma usina sonora.
Marca o ritmo com a batida do pé e com o choque de um anel contra o corpo do violão. Está cantando como nunca.
Não é o melhor gaitista, cantor ou violonista. Mas é quem faz melhor tudo isso ao mesmo tempo.
Quando saiu do palco, abriu espaço para que Robillard mostrasse, a um Palace lotado, que sua guitarra respira.
Ele é daqueles guitarristas que morrem de inveja dos músicos que tocam instrumentos de sopro. Compensa as limitações da guitarra explorando a variação de volume das notas que toca.
O maior embuste do festival foi, paradoxalmente, o responsável pelo show mais empolgado. Os Stars from The Commitments fizeram todo mundo dançar.
Com apenas três integrantes da formação original, a banda mostrou o cover do cover.
Além de ajudados pelo filme que lhes deu fama, os Commitments tocam um repertório que faria sucesso até se fosse tocado pela banda do Exército da Salvação.
Com a competência média dos grupos que tocam no Bexiga, deixaram o palco certos da missão cumprida: fazer a platéia deixar o Palace feliz, mesmo após ter pago R$ 15 pelo estacionamento.

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