São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Stone e Adjani são as mulheres fatais em 'Diabolique'
JOSÉ GERALDO COUTO
O diretor desta nova versão, Jeremiah Chechik, que tem em seu currículo o simpático "Benny & Joon", é oriundo da publicidade e do videoclipe. Talvez por isso sua abordagem do suspense seja tão enfática e redundante. O essencial da trama original é mantido: a mulher (Isabelle Adjani) e a amante (Sharon Stone) de um diretor de colégio interno (Chazz Palminteri, de "Tiros na Broadway") unem-se para assassiná-lo. Assim se vingariam do jogo perverso com que ele as aprisiona. Detetive assexuada Depois do crime é que começam as confusões e reviravoltas: surgem indícios de que a vítima não morreu, e sombrias conjecturas passam a assombrar a história e o espectador. Entra em cena uma detetive (Kathy Bates) que mantém as duas sob marcação cerrada, em busca de um ato falho ou uma confissão. É essa mulher quase assexuada (melhor seria dizer "dessexuada"), com um seio extirpado pelo câncer, que lança uma luz interessante a este "remake" (no original, o detetive era um homem). Todo o substrato erótico da relação entre o trio central ganha relevo por contraste com essa figura árida a quem parece negado todo prazer. Não por acaso, só quando vê a intriga resolvida, ela acende o cigarro que mantinha apagado durante todo o filme -e a baforada que solta então é extasiante como um orgasmo. Imagens da mulher Outro acerto da nova versão é a escolha das atrizes centrais, que podem ser vistas como emblemas de imagens opostas da mulher. Isabelle Adjani remete às mulheres etéreas e atemporais das gravuras de Gustave Moreau. É o pólo passivo da relação, a mulher misteriosa, lunar, com algo de fantasmagórico e impenetrável. Sharon Stone, o pólo ativo, é ferozmente moderna, pragmática e enérgica. Coloca-se no mundo com a segurança e a agressividade que as mulheres conquistaram ao mundo dos homens na sociedade contemporânea. A química entre as duas, ai de nós!, é irresistível. No filme original, cabe lembrar, o papel de Stone cabia a Simone Signoret, e o de Adjani à brasileira Vera Clouzot, então mulher do diretor francês. É uma pena que Jeremiah Chechik afogue seus melhores "insights" num excesso de música e clichês banais de suspense. Final oportunista Desde o início, antes mesmo que se dêem a conhecer os personagens e suas motivações, tenta-se insuflar a emoção por meio de um expressionismo publicitário primário: closes de objetos que caem em câmera lenta, enquadramentos oblíquos e extravagantes, música enfática. Pior que isso, o diretor mela tudo num final (diferente do original) arbitrário e oportunista. Como em "Thelma e Louise", é um desfecho feito sob medida para oferecer uma catarse às feministas mais primárias. A interpretação caricata de Palminteri, como o vértice masculino do triângulo, acaba cumprindo também esse papel -o de simplificar a complexidade do filme original, identificando no macho o vilão contra quem devemos torcer. Filme:Diabolique Produção:EUA, 1996 Direção:Jeremiah Chechik Elenco:Sharon Stone, Isabelle Adjani, Kathy Bates, Chazz Palminteri Onde: Olido, Liberty e circuito Texto Anterior: Jorge Amado volta à Bahia e afirma que está "inteiro" Próximo Texto: 'Brancaleone' contesta Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |