São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 1996
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Stone e Adjani são as mulheres fatais em 'Diabolique'

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Diabolique" é uma adaptação, para os EUA dos anos 90, do clássico francês de suspense "As Diabólicas" (1954), de Henri-Georges Clouzot (disponível em vídeo).
O diretor desta nova versão, Jeremiah Chechik, que tem em seu currículo o simpático "Benny & Joon", é oriundo da publicidade e do videoclipe. Talvez por isso sua abordagem do suspense seja tão enfática e redundante.
O essencial da trama original é mantido: a mulher (Isabelle Adjani) e a amante (Sharon Stone) de um diretor de colégio interno (Chazz Palminteri, de "Tiros na Broadway") unem-se para assassiná-lo. Assim se vingariam do jogo perverso com que ele as aprisiona.
Detetive assexuada
Depois do crime é que começam as confusões e reviravoltas: surgem indícios de que a vítima não morreu, e sombrias conjecturas passam a assombrar a história e o espectador.
Entra em cena uma detetive (Kathy Bates) que mantém as duas sob marcação cerrada, em busca de um ato falho ou uma confissão.
É essa mulher quase assexuada (melhor seria dizer "dessexuada"), com um seio extirpado pelo câncer, que lança uma luz interessante a este "remake" (no original, o detetive era um homem).
Todo o substrato erótico da relação entre o trio central ganha relevo por contraste com essa figura árida a quem parece negado todo prazer. Não por acaso, só quando vê a intriga resolvida, ela acende o cigarro que mantinha apagado durante todo o filme -e a baforada que solta então é extasiante como um orgasmo.
Imagens da mulher
Outro acerto da nova versão é a escolha das atrizes centrais, que podem ser vistas como emblemas de imagens opostas da mulher.
Isabelle Adjani remete às mulheres etéreas e atemporais das gravuras de Gustave Moreau. É o pólo passivo da relação, a mulher misteriosa, lunar, com algo de fantasmagórico e impenetrável.
Sharon Stone, o pólo ativo, é ferozmente moderna, pragmática e enérgica. Coloca-se no mundo com a segurança e a agressividade que as mulheres conquistaram ao mundo dos homens na sociedade contemporânea.
A química entre as duas, ai de nós!, é irresistível.
No filme original, cabe lembrar, o papel de Stone cabia a Simone Signoret, e o de Adjani à brasileira Vera Clouzot, então mulher do diretor francês.
É uma pena que Jeremiah Chechik afogue seus melhores "insights" num excesso de música e clichês banais de suspense.
Final oportunista
Desde o início, antes mesmo que se dêem a conhecer os personagens e suas motivações, tenta-se insuflar a emoção por meio de um expressionismo publicitário primário: closes de objetos que caem em câmera lenta, enquadramentos oblíquos e extravagantes, música enfática.
Pior que isso, o diretor mela tudo num final (diferente do original) arbitrário e oportunista. Como em "Thelma e Louise", é um desfecho feito sob medida para oferecer uma catarse às feministas mais primárias.
A interpretação caricata de Palminteri, como o vértice masculino do triângulo, acaba cumprindo também esse papel -o de simplificar a complexidade do filme original, identificando no macho o vilão contra quem devemos torcer.

Filme:Diabolique
Produção:EUA, 1996
Direção:Jeremiah Chechik
Elenco:Sharon Stone, Isabelle Adjani, Kathy Bates, Chazz Palminteri
Onde: Olido, Liberty e circuito

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