São Paulo, sábado, 1 de junho de 1996
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Promotor aponta maus-tratos a idosos

CRISTINA GRILLO

CRISTINA GRILLO; CRISTINA RIGITANO
DA SUCURSAL DO RIO

Representante do Ministério Público investiga as causas das mortes de 52 pacientes, ocorridas em maio, na clínica

CRISTINA RIGITANO
O promotor do Ministério Público Marcos Ramaiana disse ontem ter constatado indícios de maus-tratos aos pacientes da clínica Santa Genoveva (Santa Teresa, região central do Rio), onde 52 pacientes morreram no mês de maio (leia textos nesta página).
Ramaiana, que esteve ontem à tarde na clínica, disse também que os donos da Santa Genoveva podem ser processados por causar epidemia por bactéria.
"Se for constatado que a água está contaminada, eles estarão sujeitos a penas de dois a quatro anos, se o crime for culposo, e de 10 a 15 anos, se for doloso", disse.
Ramaiana esteve na clínica com a delegada Sônia Bello, titular da 7ª DP (Santa Teresa). Os dois estão arrolando testemunhas e intimaram três pacientes e duas enfermeiras a prestarem depoimento.
Prontuários
O coordenador de epidemiologia da Secretaria Estadual da Saúde, Mauro Modesto de Brito, recolheu ontem os prontuários médicos dos 52 pacientes mortos.
Os diretores da clínica afirmam que 13 dos mortos foram contaminados por comida levada por parentes.
Brito quer investigar se todos os óbitos ocorreram por causa da diarréia -o que poderia fortalecer a suspeita de contaminação da água.
Caso os prontuários não tenham informações suficientes, Brito pretende pedir a exumação dos corpos. "Posso pedir também os prontuários dos óbitos de abril, até descobrir quando tudo começou."
Água
A clínica não é abastecida regularmente de água pela Cedae (Companhia Estadual de Água e Esgoto). Por isso, recebia água de carros-pipa e de uma nascente, que pode estar contaminada.
"Constatamos que a água da nascente era usada na lavanderia. Estamos apurando se ela chegou a ser consumida pelos pacientes", disse Brito.
A clínica está sob intervenção sanitária. Como a cozinha foi interditada ontem, a empresa particular Sagma forneceu o almoço e jantar dos pacientes.
Ontem, foram ouvidos na delegacia fiscais da Secretaria da Saúde, que encontraram 22 irregularidades no local. Entre elas, 280 litros de leite com validade vencida, falta de médicos (apenas um plantonista), alimentos malconservados e um sapo dentro da geladeira.
As comissões de Meio Ambiente e de Saúde da Assembléia Legislativa do Rio vão enviar relatório com as irregularidades ao secretário de Saúde, Antônio Luiz Medina. "Vamos pedir a intervenção médica da clínica", disse a deputada estadual Solange Amaral (PFL).
Nesse caso, os pacientes serão removidos para outros hospitais. Cinco pacientes foram transferidos para o hospital Souza Aguiar, e um deles foi para casa.

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