São Paulo, sábado, 1 de junho de 1996
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'Phantom' tem ator de filme mudo e cenário de pano

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

No momento em que a Broadway sofre uma pequena revolução, com musicais contemporâneos como "Rent" e "Bring in da Noise, Bring in da Funk", para não falar de "Jelly's Last Jam" e "Tommy", que abriram o movimento poucos anos atrás, o que aparece em São Paulo é "The Phantom of the Opera", O Fantasma da Ópera.
E nem o "original", já tão kitsch, mas uma versão de estrada que tira proveito do sucesso turístico do musical de Andrew Lloyd Webber para sair pelo mundo com outras canções, com atores limitados e cenários de pano.
E não adianta noticiar, avisar, que lá estavam, na estréia, as dezenas de senhoras em peles de raposa e senhores em ternos elegantes. Para quem aprecia musicais e sonha ter muito mais, de produção brasileira ou estrangeira, não importa, é desanimador.
As músicas despersonalizadas de Ivan Jacobs e as letras inteiramente indigentes do mesmo Jacobs marcam até o mais deslumbrado dos públicos. "The Phantom of the Opera", ainda que não se questione o oportunismo da produção, é uma versão arrastada, sem ação, sem ritmo dramático.
E aqueles cenários, conhecidos como de "cortina", também chamados de "cenário mínimo", no caso mal desenhados e mal programados (e ainda querem comparar ao "original", de Maria Bjornson), a empobrecer ainda mais o já constrangedor espetáculo dos atores.
James Coelho, que faz o Fantasma, pensa estar em alguma caricatura de cinema mudo, com gestos grandiosos e ridículos, em atuação diante da qual é impossível conter o riso (e ainda querem comparar ao Fantasma "original", de Michael Crawford).
Richard Ginzel, que faz Raoul, que disputa com o Fantasma o amor da jovem cantora Christine Daae, também tem interpretação amadorística. Os dois protagonistas, bem como Sarah McGraw (Christine), de atuação mais convincente, estão no palco certamente pelas suas vozes.
O compositor Ivan Jacobs, por oportunista que seja a versão, tem orgulho de sua música. E convocou vozes capacitadas para levá-la à cena. Se ao menos ele distribuísse as atribuições...
Jacobs não apenas responde pelas músicas e letras, mas também pelo "livro", e palavras não são para ele. Assim, cria um quadro de confusão verbal em torno da expressão "break a leg" (quebre uma perna, mas também "boa sorte", em teatro). O quadro não tem graça.
E a obviedade: amar está "longe de ser uma arte racional"; Christine prefere o Fantasma ao jovem Raoul porque o primeiro faz dela uma "mulher independente". Os exemplos estão em toda parte.

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