São Paulo, sábado, 1 de junho de 1996
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Sinn Fein registra votação recorde

IGOR GIELOW
DE LONDRES

O Sinn Fein ("Nós Sozinhos", em irlandês), partido político ligado à guerrilha separatista do IRA (Exército Republicano Irlandês), obteve a maior votação de sua história na eleição de anteontem na Irlanda do Norte.
Com 15,7% dos votos válidos, o partido católico presidido por Gerry Adams conseguiu 17 cadeiras na assembléia de 110 membros que vai discutir o processo de paz na Província.
Mas o governo britânico não vai deixar o partido indicar seus representantes para o fórum de 20 membros que vai definir as políticas de paz a serem ratificadas pela assembléia caso o IRA não renove seu cessar-fogo.
Adams foi eleito pela parte ocidental de Belfast. Em média, o Sinn Fein amealhava entre 10% e 12% dos votos em eleições na Irlanda do Norte desde 1983. No mesmo distrito de Adams, obteve 65% dos votos e elegeu seis dos sete representantes.
O outro eleito foi um católico moderado do SDLP (Partido Social-Democrata Trabalhista), agremiação que manteve os 22% obtidos na eleição geral de 1992.
Os católicos, 38,4% dos 1,6 milhão de habitantes da Irlanda do Norte, defendem em sua maioria a união com a República da Irlanda.
Os protestantes anglicanos, 50,6% da população, querem em sua maioria permanecer parte do Reino Unido. Os unionistas, partidos pró-Reino Unido, sofreram a fragmentação de seus votos.
O UUP (Partido Unionista do Ulster), maior da Província com 29% dos votos em 1992, ficou com 23% dos votos desta vez. Vai ser o maior da assembléia do processo de paz, com 30 representantes.
O DUP (Partido Unionista Democrático), facção protestante radical liderada pelo pastor Ian Paisley, viu sua fatia no bolo eleitoral crescer de 17% em 1992 para 19%.
Radicais
A eleição trouxe um fato desagradável para Londres, que preferia ver os moderados do UUP e do SDLP tomando decisões: 34,7% dos votos foram para os principais partidos ligados a grupos paramilitares (Sinn Fein e DUP).
E, entre os cerca de 20% dos votos restantes, aproximadamente 10% são ligados a grupos independentes radicais de ambos os lados.
Os problemas não param por aí. O Sinn Fein agora vai usar o argumento da legitimidade eleitoral para forçar Londres a lhe dar vaga no fórum mesmo sem cessar-fogo.
Isso é quase inevitável, mesmo porque sem o Sinn Fein não há sentido a negociação, mas também pode provocar a saída dos unionistas do fórum -o que o tornaria inócuo da mesma forma.

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