São Paulo, sábado, 1 de junho de 1996
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A PAZ INTERNA

A eleição de quarta-feira em Israel girou quase que inteiramente em torno do processo de paz com os palestinos e, de modo mais geral, com os países árabes vizinhos.
No entanto, seus resultados indicam com clareza que Israel precisará agora, antes de tudo, de paz entre seus próprios habitantes.
Afinal, é raríssimo um pleito decidir-se por margem tão irrisória como aconteceu: a diferença entre o eleito, o direitista Binyamin Netanyahu, e o trabalhista Shimon Peres fica abaixo de um ponto percentual.
Claro está que a metade de Israel apóia o processo de paz, tal como conduzido até agora, e a outra metade prefere dar prioridade à segurança do país, antes de avançar mais.
Também ficou mais nítida a divisão entre os seculares e os religiosos, com um avanço considerável dos partidos que representam os ortodoxos. Eles terão 24 deputados no Parlamento (isto é, 20% do total).
Para ter uma idéia comparativa, seria, no Brasil, o equivalente a ter 116 deputados representando grupos religiosos ultra-ortodoxos. Causaria escândalo, com certeza.
Reconciliar essas duas visões do país não seria tarefa fácil em circunstância alguma. Muito menos ainda quando se considera que o premiê eleito, já por si um conservador, encontra-se cercado de "falcões", que vêem os palestinos (e os árabes em geral) como inimigos e não como vizinhos com os quais é inevitável conviver, por mais desconfianças que haja de parte a parte.
A convivência fica perto do impossível entre os próprios israelenses, a ponto de uma figura simbólica como Leah Rabin, viúva do primeiro-ministro assassinado, Yitzhak Rabin, estar agora manifestando o desejo de fazer as malas e deixar Israel.
A rigor, uma nação que foi sendo construída exatamente no sentido inverso, recebendo milhões de judeus espalhados pelo mundo, não poderia permitir que, a partir de agora, infelizmente, fosse desencadeada uma nova Diáspora.

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