São Paulo, domingo, 2 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Matemática pode ter várias interpretações

FERNANDO ROSSETTI
DO ENVIADO ESPECIAL

Ao contrário do que se acredita, os textos de matemática permitem várias interpretações, defende o professor da Unesp de Bauru Antônio Vicente Garnica, 33.
A partir dessa idéia, ele sugere que para ensinar matemática se deve recorrer à hermenêutica -ramo da filosofia antigamente usado para interpretar textos sagrados.
Com sua proposta -apresentada em uma tese de mestrado-, Garnica ganhou, no ano passado, o prêmio Moinho Santista, na categoria juventude. O outro premiado foi o educador Paulo Freire.
Ontem, durante o congresso da Unesp sobre formação de professores em Águas de São Pedro, ele explicou à Folha como se dá na prática essa nova metodologia
*
Folha - Qual é a sua proposta de ensino de matemática?
Antonio Vicente Garnica - Basicamente é investigar por que se tem a idéia de que o texto matemático só tem uma interpretação correta e fora disso não existe vida.
Folha - Mas o texto matemático não é exato?
Garnica - É. Ele prima pela exatidão, tem um modo de escrever, de usar a simbologia, tem toda uma regra. Mas isso, na verdade, é a regra de você produzir conhecimento matemático. E você não pode trabalhar com matemática em sala de aula do mesmo modo como você produz conhecimento matemático. São duas coisas diferentes. A comunidade científica de matemática produz conhecimento. Em sala de aula você tenta fazer com que o aluno consiga interpretar o mundo dele usando a matemática.
Folha - Como é que você faz isso?
Garnica - Tentamos ver se existem formas alternativas de interpretação do texto matemático.
Folha - E existem?
Garnica - Sim, e é uma forma extremamente válida para o ensino e aprendizagem de matemática. Realçando os ditos erros ou falhas de interpretação, você faz com que o aluno reavalie o que está aprendendo.
Folha - Como você faz isso?
Garnica - Para analisar o texto dessa maneira a gente foi buscar como recurso a interpretação que antigamente era usada com textos sagrados, a hermenêutica. A idéia é trabalhar com os termos do texto, porque matemática tem muito a ver com a língua materna. A própria lógica, que é a gramática da matemática, nasceu de uma sistematização da língua grega. Então aproveitamos essa sincronia entre matemática e língua, vendo como isso funciona em sala de aula.

O jornalista Fernando Rossetti viajou a Águas de São Pedro a convite da Unesp

Texto Anterior: Galisteu quer virar militante antidrogas
Próximo Texto: Aluno relaciona equação à vida
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.