São Paulo, domingo, 2 de junho de 1996 |
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Oferece-se um trono
JOSIAS DE SOUZA São Paulo - Há no Brasil um monarca ávido por abdicar do próprio trono. Refiro-me a Olacyr de Moraes, o rei da soja.Olacyr ofereceu ao governo a sua Itamaraty, uma fazenda modelo. Quer que seja desapropriada pelo Incra, para assentar sem-terra. Em troca, aceita receber TDAs (Títulos da Dívida Agrária), papéis podres, com deságio de 35% no mercado. Não se está falando aqui de meras intenções. Não, não. Olacyr já plantou sua proposta nos escaninhos de Brasília. Está tudo documentado. Preto no branco, como se diz. Joga-se com o destino de cerca de 200 mil hectares de terras. Produtivíssimas. No momento, tenta-se chegar a um valor para as terras. A proposta de desapropriação da Itamaraty desliza pelos escaninhos do Ministério da Reforma Agrária como uma imensa batata quente. Habituado a expropriar solos sem utilização, o governo não sabe o que fazer com uma das maiores vitrines rurais do planeta. A Itamaraty é um colosso reconhecido mundialmente. Possui armazém para 600 mil toneladas de grãos, cerca de 3.000 casas, escola, creche e hospital. Poucas fazendas no mundo estão tão equipadas. Na cabeça de Olacyr, o governo teria como instalar ali uma megacooperativa rural. Algo que funcionasse melhor do que os atuais assentamentos, cercados de improvisação. O pessoal do Incra concorda. Mas teme que, entregue a trabalhadores despreparados, a propriedade vire sucata rural. A operação proposta por Olacyr expõe duas realidades hediondas. Algo de que já se suspeitava: 1) produzir alimentos no Brasil deixou de ser um bom negócio. Prefere-se entregar as terras ao governo a ter de enfrentar o custo financeiro da lavoura; 2) O trabalhador sem terra não está preparado para virar proprietário. O Ministério da Reforma Agrária recebe sinais de outros grandes produtores, todos dispostos a imitar Olacyr. O Incra hoje assusta menos do que o Banco do Brasil, eis a sólida verdade. Texto Anterior: PÓDIO GLOBAL Próximo Texto: Surrealismo Índice |
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