São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Reforma eleitoral deve ser pequena

OLÍMPIO CRUZ NETO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A reforma política a ser desenhada pelo Congresso a partir de agosto pode ser mais tímida do que esperam alguns líderes políticos brasileiros.
Ela deve ficar restrita à aprovação de poucas emendas constitucionais e à reformulação da LOPP (Lei Orgânica dos Partidos Políticos) e do Código Eleitoral.
As chances de uma alteração profunda no quadro partidário e eleitoral, como pretendem PFL e PSDB, são poucas.
Ambos são considerados os maiores defensores de uma reforma política mais radical dentro do Congresso.
Apesar disso, os próprios pefelistas já admitem que a agenda política pode ficar limitada à aprovação das emendas da reeleição para cargos do Executivo e à flexibilização do segundo turno: eleição do candidato que atingisse um terço dos votos no primeiro turno, entre outros pontos.
As propostas mais polêmicas, como a que impõe a perda de mandato para os parlamentares que trocarem de legenda e a adoção do voto distrital misto, além da implantação da cláusula de desempenho, dificilmente serão aprovadas.
Alternativa
A Folha apurou que, em lugar da cláusula de desempenho -representação no Congresso somente aos partidos que atingissem 5% dos votos nas eleições- deve-se optar pela proibição de coligações nas eleições proporcionais (deputados e vereadores).
Acredita-se ser esse um caminho alternativo para o enxugamento dos partidos.
O argumento para a realização de uma reforma mais contida baseia-se no princípio de que os parlamentares não vão impor a si mesmos regras que dificultem a sua própria sobrevivência política.
Ao lado da conveniência, existe ainda o problema do congestionamento na pauta do Congresso, que analisa, no segundo semestre, as propostas do governo para as reformas previdenciária, administrativa e tributária.
Pequenos
Não bastassem essas dificuldades, os pequenos e médios partidos vêm advertindo que não estão dispostos a aprovar uma reforma que, teoricamente, só beneficia as grandes legendas: PMDB, PSDB e PFL.
A exigência dos 5% dos votos nas eleições para a Câmara, prevista na cláusula de desempenho, por exemplo, pode reduzir para oito o número de partidos no Congresso. Atualmente, existem 18 legendas com representação no Congresso Nacional.
O relator da comissão especial de reforma política e eleitoral da Câmara, deputado João Almeida (PMDB-BA), acredita na força dos três partidos para a aprovação das propostas, o rolo compressor que tem dado vitórias ao governo.
Ele é autor de 13 emendas constitucionais, inclusive a polêmica cláusula de desempenho.
"A questão vai ser resolvida no plenário. Ganha quem tem mais voto", afirma o deputado.
Tentativas
João Almeida já relatou seis projetos de reforma política e eleitoral nos últimos cinco anos.
Esse número é um exemplo das tentativas do Congresso de alterar o sistema eleitoral, sem grande sucesso.
Os interesses circunstanciais dos parlamentares têm prevalecido e as mudanças acabam sendo mais tímidas do que as desejadas.

Texto Anterior: Tembés declaram guerra a ocupantes de reserva no Pará
Próximo Texto: Extremos se unem contra
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.