São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"O País dos Tenentes" julga a história do Brasil

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Em sua autocrítica de "Terra dos Faraós" (1955), Howard Hawks dizia que nem ele, nem os roteiristas, nunca conseguiram perceber como falavam os antigos egípcios, e que isso interferia em todo o filme.
Quarenta anos depois, essa autocrítica parece um despropósito, tal a beleza do filme. No entanto, ela se aplica como uma luva a "O País dos Tenentes" (Bandeirantes, 21h30), do diretor João Batista de Andrade.
Compreender uma maneira de falar consiste, em suma, em remontar uma história. Com a fala, vêm os símbolos, gestos, comportamentos. Quando um filme histórico consegue fazê-lo, consegue também ser fiel à época que tenta retratar.
"O País dos Tenentes" sofre de dois problemas paralelos. O primeiro é a presentificação da história. O Brasil dos tenentes rebeldes dos anos 20, que tomam o poder nos anos 30, é, em linhas gerais, o país em que vivemos até hoje.
O filme promove uma espécie de julgamento da história. Observa-a a partir de 1987, atribui a seu personagem central, um velho militar, alguns duvidosos remorsos. Aplica aos tenentes uma espécie de segundo cérebro que, de algum modo, anula o original e nos distancia da época enfocada.
Talvez por isso mesmo, acumula gestos, diálogos e formas de tratamento que, em vez de reconstituir o passado, permitem que ele se escoe diante do olhar incrédulo do espectador.
Apesar disso, hoje a história é um tema preferido no Brasil. Este é o século dos tenentes. E, mesmo em seus equívocos, "O País dos Tenentes" tem a virtude de nos introduzir a um capítulo essencial da história do país.

Texto Anterior: Cultura denuncia pobreza urbana do mundo
Próximo Texto: Peter Yates sabe divertir
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.