São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 1996 |
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Cultura denuncia pobreza urbana do mundo Esther Hamburger ESTHER HAMBURGER
A emissora transmite uma uma seleção de 11 das 40 esquetes de 30 segundos de autoria do italiano Bruno Bozzetto. São charges que apelam para a diminuição do lixo, condenam o desperdício de recursos naturais e conclamam a economia de energia. A Cultura exibe também spots sobre a condição da mulher em algumas grandes cidades do mundo - incluindo um sobre São Paulo. As denúncias revelam números alarmantes. Essas esquetes sintetizam de maneira contundente os ideais da onda ecológica que assola o planeta. Divulgam um novo discurso universalizante. Passamos da ânsia pelo desenvolvimento e pelo domínio da natureza, à ânsia pela estabilização e pela preservação. Como se as condições de controle do meio ambiente e das desigualdades sociais fossem iguais aqui e na Suíça. As consequências não antecipadas da modernização fizeram a inversão dos ideais dominantes no mundo ocidental desde a revolução industrial sobre a conquista da natureza. E se uma cidade como São Paulo tardiamente se orgulhou de "não poder parar", hoje o que era vantagem se transformou em carma. São Paulo se tornou um grande escapamento. É óbvio que essa onda ecológica é mais que bem-vinda. Mas não dá para deixar de notar que ela repete preconceitos recorrentes. Como se preservar bosques suíços e a floresta Amazônica envolvesse somente princípios universais, para além das desigualdades seculares. Nas vinhetas de Bozzetto, o globo terrestre está sempre sujeito a ação nefasta de homens que se situam fora dele. Representam com perfeição a onipotência humana sobre a natureza. Os homens instalam fábricas, cortam árvores e terminam vítimas de seus próprios artefatos. Os ideais ecologistas reforçam essa alteridade entre a espécie humana e a natureza. Simplesmente apregoam que o sinal se inverta e que humanos passem a agir pela preservação. Escrevi novamente sobre vinhetas. Afinal trata-se de um formato televisivo por excelência. Vinhetas exploram com radicalidade a capacidade da TV de condensar altas dosagens de informação audio visual em curtíssimos espaços de tempo. Texto Anterior: Disco tira chorinhos cultuados do baú Próximo Texto: "O País dos Tenentes" julga a história do Brasil Índice |
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