São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 1996
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Pacote realiza volta ao mundo em 15 CDs

CELSO FIORAVANTE
DA REDAÇÃO

Finalmente o Brasil está abrindo olhos e ouvidos para a world music. Primeiro foi a visita inesperada do argelino Khaled, que animou a Polygram a programar o lançamento de dois discos do "rei do rai". Tomara que o traga novamente para shows de lançamento.
Agora é a gravadora EMI, que lança no país 15 títulos de seu selo Hemisphere, dedicado aos insólitos sons dos quatro cantos do mundo (veja títulos e suas procedências no quadro ao lado).
Uma das boas surpresas do pacote é a coletânea "Sif Safaa: New Music from the Middle East", que traz faixas do Egito, Arábia Saudita e Iraque. As mais dançantes são do Egito, que, país menos conservador, soube assimilar influências ocidentais à sua tradição musical. É dali que vem Mohamed Mounir, intérprete da faixa-título do CD.
"Sif Safaa" tem uma história particular. Gerald Seligman perdeu a fita com a canção e só foi encontrar uma cópia dela em um restaurante no Rio de Janeiro.
A envolvente "Sif Safaa" também pode ser encontrada no Brasil na coletânea "Yalla", que reúne hits egípcios (disponível na MCD 011/257-9744). Outro destaque de "Sif Safaa" é o cantor Saleh Khairy, uma espécie de Khaled da Arábia Saudita.
Também da tradição árabe vem a cantora Yosefa, que mistura em seu disco "The Desert Speaks" influências recebidas do pai iemenita e da mãe marroquina com percussão africana, música ambiente, pop e rock.
África
O pacote traz ainda "Ni Kanu", trabalho mais recente do cantor e guitarrista Kante Manfila (o CD traz ainda três faixas bônus do trabalho anterior, "Diniya"). Originário de uma família de "griots" (contadores de histórias), como grande parte dos músicos africanos, Manfila acrescenta guitarras e sintetizadores em seu trabalho, preservando também coros e instrumental da tradição africana.
Apesar de ter nascido na Guiné e crescido na Costa do Marfim, Manfila ganhou notoriedade a partir de Mali, onde formou, no início dos anos 70, o grupo Les Ambassadeurs, com Salif Keita, Mory Kante e Ousmane Kouyate.
O grupo até que durou muito -cerca de dez anos- mas o brilho das estrelas Manfila, Kante, Keita e Kouyate fez com que partissem para bem-sucedidas carreiras solo.
Mali, um dos mais efervescentes caldeirões musicais da África, ganhou ainda a coletânea "Electric & Acoustic Mali", que traz nomes como o do bluesman Lobi Traore e do músico Kerfala Kante.
Caldeirão semelhante ao de Mali, só na África do Sul, um país-continente quando o assunto é música.
"South Africa - Only the Poorman Feel It" traz, por exemplo, Busi Mhlongo, cantora contemporânea de Miriam Makeba, que durante os anos difíceis do apartheid se transferiu para a Europa.
Sua carreira começou nos anos 60, mas gravou seu primeiro disco apenas em 1993. Em 30 anos, construiu uma das melhores vozes de seu país, e a influência européia deu-lhe um saboroso côté jazzy.
O guitarrista Condry Ziqubu é outro destaque do CD. Sua faixa "Mayibuye", que pede o fim da diáspora sul-africana, traz levadas reggae e de ritmos da América Latina, como mambo e salsa, fortes influências na música da África do Sul nos anos 50 e 60.
Ritmos latinos
Esses ritmos tropicais ganharam a coletânea "Salsa, Merengue, Mambo!", que traz, entre outros, a venezuelana Maria Rivas e a porto-riquenha Ednita Nazario. As duas cantoras beberam em fontes brasileiras e temperaram mambos e chá-chá-chás com samba e bossa nova, como em "Adios Carcelero y Carcel" e "Tres Deseos".
Também louvável no pacote é o cuidado com seus encartes, que além de apresentações sobre a música da região do CD, traz também notas biográficas sobre os artistas e descrições das músicas. A Hemisphere também lançou vários discos sobre música brasileira, mas esses não estão no pacote.

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