São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 1996
Próximo Texto | Índice

MENOS POBRES

Estudo elaborado pelo Ipea veio reafirmar o efeito distributivo da queda da inflação. A proporção de pessoas que está abaixo da linha de pobreza reduziu-se entre julho de 94, o primeiro mês do Plano Real, e janeiro último. Nas seis principais capitais do país, a porcentagem de pobres passou, em média, de espantosos 42% da população no início da estabilização para 32% em julho de 95 e 28% no primeiro mês deste ano.
É claro que a situação social brasileira continua muito ruim, mas, ao menos sob o critério acima, a melhora foi enorme. Em valores de janeiro, estão abaixo da linha de pobreza os que, em São Paulo, têm ganhos mensais inferiores a R$ 92,63. Em Porto Alegre, esse limite está em R$ 58,41.
A divulgação de melhora tão expressiva nos rendimentos dos mais pobres conflita, em certo sentido, com uma insatisfação bastante generalizada -constatada inclusive pela perda de popularidade do governo.
O sentimento de que as oportunidades de trabalho e ascensão deixaram de ser promissoras como na fase inicial do plano pode ser uma das explicações para o descontentamento. Afinal, com a dura freada econômica iniciada no segundo trimestre de 95, o desemprego voltou a crescer.
Ademais, o dado mais recente de melhora refere-se a janeiro. É possível que a tendência não tenha se mantido desde então. Lembrando que o nível de vida não é determinado exclusivamente pela renda monetária, mas depende também de várias outras condições, como serviços gratuitos de saúde, educação ou segurança, pode-se conjeturar sobre a possibilidade de que, nessas áreas, não tenha ocorrido melhora similar.
Os dados apresentados pelo estudo do Ipea são animadores. Mas não parece provável que o mero controle da inflação continue a proporcionar melhoras sociais como as constatadas há pouco. A miséria continua a ser um imenso desafio que este governo ainda tem de enfrentar, assim como será para os que se seguirem em um futuro próximo.

Próximo Texto: AGENDA COMPETITIVA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.