São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 1996
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Divisão entre negros é a mais profunda

ROGÉRIO C. DE CERQUEIRA LEITE

na África do Sul
Com alguma atenção, o turista dotado de um pouco de inteligência pode andar pelo centro de Johannesburgo sem problemas.
Desde que não exiba jóias, relógios Rolex ou carteiras recheadas em público. A Cidade do Cabo é tão segura quanto São Paulo. E Durban é menos ameaçadora do que Campinas.
O desemprego está diminuindo aos poucos. Se traz problemas para o turista desavisado, é tão somente nos grandes centros urbanos.
E, para quem vai aconchegar-se a leões, leopardos, rinocerontes, hipopótamos e elefantes, Johannesburgo não deveria despertar qualquer receio.
O problema do desemprego, entre negros, entretanto, continua sendo o mais grave para a administração Mandela.
Brigas tribais
Um outro problema é o da questão racial. Apesar do profundo racismo cultural dos africânderes (descendentes de holandeses e franceses), eles reconhecem a sabedoria e autoridade de Mandela.
Claramente, estão dando ao líder negro um voto de confiança, apesar de divergências menores.
A pior dessas divergências envolve os zulus, o maior grupo étnico da África do Sul.
É preciso não esquecer que Mandela é xhosa, nação originariamente tão unida e aguerrida quanto a zulu, mas que, por um processo semelhante ao que ocorreu com os astecas, frente a Cortez, desabou quando encontrou os colonizadores brancos.
Os zulus, por outro lado, se mostraram muito mais resistentes e, até hoje, reagem a qualquer processo de globalização, embora já sejam relativamente aculturados.
O terceiro problema que enfrenta Mandela é com o seu próprio povo, que esperava obviamente recompensas após tantos anos de escravidão pelos brancos, que ainda detêm, se não o poder político, certamente o financeiro.
Mas Mandela já vem navegando com sucesso nesse mar revolto há vários anos. Seu prestígio cresce.
Esperemos que esse mago, quase santo, que, após 27 anos de prisão, não reteve ressentimentos, consiga trazer paz e prosperidade para esse que será talvez o primeiro país do continente africano a se libertar da miséria e da injustiça.

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