São Paulo, terça-feira, 4 de junho de 1996
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BC permitiu operações ilegais, diz defesa

FERNANDO PAULINO NETO
DA SUCURSAL DO RIO

A defesa do Banco Nacional afirma que os procedimentos com a carteira de 652 créditos considerados fictícios pela Polícia Federal e pelo Banco Central foram inspirados "em prática admitida pelo próprio Banco Central, em determinado momento, como autorizado por certos atos normativos".
A afirmativa consta das alegações do presidente do banco, Marcos de Magalhães Pinto, entregues ontem à comissão de inquérito do BC (Banco Central), que terminou seus trabalhos na semana passada.
Segundo o advogado da família Magalhães Pinto e de vice-presidentes do banco, Sérgio Bermudes, "o BC autorizou que créditos ruins fossem considerados bons".
Procurado pela Folha, até às 20h o BC não se pronunciou.
Créditos fictícios
O Banco Central contabilizou os créditos considerados fictícios em R$ 5,367 bilhões. O relatório afirma que o rombo total é de R$ 6,7 bilhões. O restante seria, na maioria, de operações de câmbio.
As alegações de Magalhães Pinto dizem ainda que o relatório mostrou que "os dividendos pagos foram menores do que os vários aumentos de capital efetivados" pelos controladores do banco.
Nas alegações da defesa está escrito ainda que "múltiplas e sucessivas normas, inclusive do Banco Central do Brasil e do Conselho Monetário Nacional, permitiram que instituições financeiras apresentassem e mantivessem demonstrações contábeis peculiares a exigências conjunturais".
Clarimundo
O ex-vice-presidente de Controladoria Clarimundo Sant'Anna, também defendido por Bermudes, entregou suas alegações reconhecendo a mecânica dos chamados créditos fictícios, mesmo negando o termo. Os créditos "não têm origem em operações fictícias nem em empréstimos a devedores inexistentes", diz a defesa.
Mas Sant'Anna descreve as operações como já haviam sido descritas pela Polícia Federal e BC:
"O que esses créditos têm de excepcional é que, uma vez vencidos e não-pagos, deixaram de ser registrados como perdas nas contas de resultado do banco, continuaram a integrar o ativo e essa carteira foi acrescida do custo do dinheiro (juros) suportado pela instituição".
Também apresentaram alegações Ana Lúcia de Magalhães Pinto, casada com Paulo Henrique Cardoso, filho do presidente Fernando Henrique Cardoso, e mais 11 sócios e diretores do Nacional.
Todos disseram que, "diante da ausência de qualquer imputação", não iriam se manifestar.

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