São Paulo, terça-feira, 4 de junho de 1996
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Preocupação do mercado é ironia

CELSO PINTO
COLUNISTA DA FOLHA

É uma ironia que o mercado internacional tenha ficado nervoso com a possibilidade de o Brasil sofrer uma crise cambial, no mesmo dia em que o Banco Central anunciou a entrada líquida de US$ 3,7 bilhões no mês passado.
Esse é o resultado do chamado câmbio comercial, recorde no ano e só comparável à euforia de julho do ano passado. Mesmo considerando que o câmbio flutuante teve um saldo negativo no mês passado, que alguns calculam perto de US$ 1 bilhão, a enxurrada de dólares em maio significa que as reservas cambiais devem estar, hoje, muito perto de US$ 60 bilhões.
Então, de onde vem o pessimismo? O professor Rudiger Dornbusch, do Massachussets Institute of Technology (MIT), de Boston, foi duplamente responsabilizado pela corrida, que acabou afetando a cotação do dólar e dos papéis da dívida brasileira.
México
Em Sidney, na Austrália, Dornbusch advertiu que a sobrevalorização cambial no Brasil poderia colocá-lo no mesmo caminho do México, onde a moeda desmoronou em 94 e arrastou, consigo, o dólar. Numa matéria publicada ontem pelo Wall Street Journal, seu correspondente no Rio lembra palestras recentes de Dornbusch e atribui a ele o cálculo que o real está defasado entre 30% e 40%.
No dia 31 de março, a Folha publicou uma entrevista com Dornbusch onde ele deixava claro duas coisas. Uma é que apoiar a estabilização em juros altos e câmbio defasado, sem um ajuste fiscal adequado, é suicídio. Outra é que o Brasil tem tempo para consertar o rumo antes da crise ("um ou dois anos", como repetiu ao Wall Street Journal).
Se há um ponto em que os críticos do real concordam é que não se monta uma crise cambial da noite para o dia com US$ 60 bilhões nos cofres. A outra concordância é que é apenas uma questão de tempo até que uma crise deste tipo aconteça. Ontem, foi apenas uma amostra de como o nervosismo no mercado internacional pode voar de Sidney a Nova York, passando pelo Rio.

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