São Paulo, quarta-feira, 5 de junho de 1996
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Secretaria proíbe policiais de atuar como repórteres

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário de Segurança Pública de São Paulo, José Afonso da Silva, tomou ontem uma decisão que poderá inviabilizar o programa "Na Rota do Crime", exibido pela Manchete às sextas-feiras.
Durante reunião com o comando das polícias civil e militar, Silva proibiu que policiais em serviço atuem como repórteres.
O programa da Manchete, que ocupa a faixa das 22h45, pretende retratar "o cotidiano dos homens da lei". Para tanto, registra a ação dos policiais de São Paulo -que fazem entrevistas e narram o que está acontecendo, à maneira dos jornalistas.
Na reunião de ontem, o secretário também proibiu que a mídia entre em carros da polícia. Programas como o "Aqui Agora" (SBT) e o próprio "Na Rota do Crime" costumam exibir cenas gravadas dentro de veículos policiais.
Hoje, as cúpulas da PM e da Polícia Civil deverão transmitir as ordens para seus subordinados. Silva não determinou de que maneira isso será feito -se por escrito ou oralmente. Deixou a decisão para cada comando.
"Não é possível que, durante as diligências, os policiais se preocupem em narrar as ações. Correm o risco de perder a concentração no trabalho que realmente têm de fazer. Podem dar mais atenção às câmeras do que ao cumprimento de seus deveres", afirmou o secretário à Folha.
Quanto à "presença de terceiros" nos veículos da polícia, Silva declarou: "Viatura não é carro de reportagem. Caso haja algum acidente com os terceiros, eles podem querer processar o responsável pelas polícias -no caso, o Estado."
O secretário disse que não tomou as decisões pensando neste ou naquele programa. A Folha apurou, entretanto, que a assessoria de Silva vinha gravando todos os episódios do "Na Rota". Semana passada, editou-os em uma fita de 20 minutos e a entregou ao secretário.
A reunião de ontem começou às 9h30 e terminou às 11h. Além de Silva, estavam presentes o corregedor-geral da Polícia Civil, Maurício Genofre, e o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Claudionor Lisboa.
Outro lado
O diretor do "Na Rota", Hermes Leal, se mostrou "surpreso" com as decisões. "Não recebi informação oficial. Continuamos trabalhando normalmente."

LEIA MAIS sobre o programa "Na Rota do Crime" à pág. 4-6

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