São Paulo, sexta-feira, 7 de junho de 1996
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Aliança para os trens

TELMO GIOLITO PORTO

Por que o comportamento do passageiro é diferente no trem de subúrbio e no metrô? Uma resposta simplista seria porque ele reage ao desempenho do sistema em que embarcou. Resposta correta, mas incompleta. Outras considerações há de se fazer:
Um dos sistemas é enterrado ou completamente vedado por muros, o outro tem grandes extensões de faixa aberta. Um é escuro, outro está à luz do sol. Um serve no centro, outro vai à periferia com infra-estrutura urbana insuficiente. Num caso, a fuga de marginais é mais dificultada, o entorno é limpo; no outro, nem tanto.
O aspecto das estações contribui para posturas diversas. De um lado, prosaicas edificações, do outro, granito que lembra a casa dos ricos. Não cabe aqui crítica. A qualidade dos materiais é mecanismo eficiente para reduzir o vandalismo. Todos já tivemos a experiência de entrar numa casa onde a riqueza nos intimida.
A imediata substituição de itens vandalizados -vidros, bancos- é outro procedimento que exige recursos, mas é eficaz na interrupção do mecanismo psicológico que nos faz naturalmente agredir o agredido. Também impede associação equivocada entre riscos nos bancos e estado geral do sistema.
Um fato para reflexão: o vandalismo é menor nas regiões da cidade de ocupação mais antiga, onde o trem faz parte da memória -recordação da infância, emprego de pais ou avós. Em outras -de recente explosão populacional-, a ferrovia materializa-se como mais uma face da conjuntura econômico-social que oprime o recém-chegado à área metropolitana.
Um outro lado da questão é o dos ferroviários: acachapados por uma associação indevida entre as deficiências dos sistemas a que servem e sua própria imagem individual. As pesquisas indicam que os usuários avaliam bem os empregados que atuam nas estações da malha ferroviária urbana de São Paulo. Contudo são inúmeros os depoimentos de visitantes que declaram ter a impressão de que os ferroviários expressam-se como se estivessem acuados. Eles sabem do que são capazes, mas o resultado de seu trabalho é limitado por fatores técnicos e comportamentais.
O sistema de trens metropolitanos -além das questões técnicas e financeiras- tem um círculo vicioso a romper. Precisa do usuário para alcançar a qualidade de transporte que pretende, mas esse está cético pela demora. Para resolver o impasse a engenharia é insuficiente. A virada depende de mudança comportamental, de uma aliança com pessoas, tarefa para especialistas e para todos nós.

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