São Paulo, sexta-feira, 7 de junho de 1996
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São Paulo vira exemplo de "anticidade"

GILBERTO DIMENSTEIN
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL

Os paulistanos vivem com medo e sitiados, mudando o perfil da cidade, constata relatório oficial da Habitat 2, ao analisar o impacto da violência nos centros urbanos.
O medo da violência mudou São Paulo. Desencorajou as pessoas a andarem pelas ruas, determinando a sua preferência pelos protegidos shoppings ou por condomínios fechados.
"A violência nas cidades é uma guerra civil em câmera lenta", afirma Wally N'Dow, secretário-geral da Habitat 2. "As pessoas passaram a escolher o restaurante, o cinema ou o teatro a partir da possibilidade de ser ou não assaltadas", acrescenta ele.
Outros exemplos
O texto ressaltou algumas cidades conhecidas mundialmente pela alta taxa de assassinatos, como Washington (EUA), Rio de Janeiro ou Cali, na Colômbia.
A idéia é que a violência determina a maneira pela qual as pessoas se locomovem e até mesmo o tipo de construção erguida na cidade. O principal exemplo escolhido foi o município de São Paulo.
"A violência tirou as pessoas de ruas e bairros", afirma o texto. "As ruas eram lugares onde as crianças costumavam brincar, onde os moradores se reuniam para conversar, muitas vezes sentados na calçada", cita trecho do mesmo relatório.
Espaços públicos foram abandonados e, assim, favoreceram espaços protegidos como os shopping centers, que acabaram transformados em "fortalezas".
Ruas são tomadas por mendigos e meninos de rua. Cada vez mais raramente as camadas mais ricas visitam o centro, preferindo as zonas mais nobres e que contem com mais policiamento.
A tendência ocorre em muitas cidades. As pessoas preferem usar carros particulares e procuram entrar direto em garagens de edifícios, evitando contato com a rua.
Causas
O documento considera que, entre as várias causas da criminalidade -pobreza, má-distribuição de renda, desagregação familiar-, uma delas é a aglomeração urbana.
Nas cidades, existiria mais apelo ao consumo, gerando tensão social nos mais pobres. Uma tensão agravada com a proximidade de sinais de ostentação de riqueza como carros, casas ou lojas. O indivíduo se sentiria mais atraído pela criminalidade, especialmente se houver policiamento falho.
A Habitat 2 endossa a tese de que a violência deveria ser encarada como um problema de saúde público, assim como, por exemplo, Aids e tuberculose. Portanto, mereceria um tratamento em diferentes setores, que vão da educação, passando pela distribuição de renda, à recuperação dos presos.

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