São Paulo, sexta-feira, 7 de junho de 1996
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Sob pressão islâmica, premiê turco renuncia

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O primeiro-ministro da Turquia, Mesut Yilmaz, renunciou ao cargo ontem, abrindo caminho para a eventual formação de um governo islâmico.
Yilmaz renunciou para evitar que, no sábado, fosse submetido a uma moção de censura no Parlamento. Ele certamente perderia, pois o partido do Caminho Verdadeiro, que formava uma delicada coalizão com Yilmaz, anunciara que votaria com o Partido do Bem-Estar (islâmico).
"O problema está solucionado, felizmente. Agora, o mandato deve ser entregue a mim dentro de meia hora", chegou a anunciar o líder islâmico Necmettin Erbakan.
A posse dos islâmicos no governo, entretanto, não é segura. Apesar de quase toda a população ser muçulmana, a Turquia é um país laico, que desde a proclamação da República, na década de 1920, sempre buscou a aproximação com o Ocidente. Um governo islâmico enfrenta a oposição da ala mais ocidentalizada da população -como empresários ligados à Europa e às Forças Armadas.
Os islâmicos são maioria relativa no Parlamento desde as eleições do final do ano passado. Para impedir que eles formassem o governo, o Partido do Caminho Verdadeiro retomou uma coalizão com o Partido da Mãe Pátria -aliança que, rompida no ano passado, forçou a realização de eleições.
Interino
A demissão de Yilmaz já era prevista para hoje. Ele a entregou no meio do dia ao presidente Suleyman Demirel, que determinou que ele ficasse no cargo até que um novo governo seja formado. Yilmaz está no cargo há apenas três meses.
Ele chegou ao poder, dois meses após as eleições, em uma complicada negociação com a ex-primeira-ministra Tansu Çiller.
Çiller decidiu deixar a coalizão como represália a uma investigação parlamentar sobre corrupção em seu governo, incentivada por Yilmaz. Çiller (pronuncia-se "tchíler") teria se apropriado de US$ 6 milhões de um fundo secreto, durante seu mandato.
Apesar de aliados politicamente nos últimos anos, Çiller e Yilmaz mantêm profundas diferenças pessoais. "Ela destruiu o governo para salvar a si mesma, à custa de lançar o país na crise. Sua única motivação é impedir que o Parlamento a indague sobre as acusações que pesam sobre ela", disse o premiê demissionário.
Além da votação de sábado no Parlamento, Yilmaz enfrentava também uma decisão da Justiça que considerou inválida a sessão do Parlamento que o empossou.
O presidente Suleyman Demirel disse que vai se reunir hoje com os líderes partidários do país para discutir uma eventual nova coalizão. Uma possibilidade é que a coalizão entre o Partido do Caminho Verdadeiro e o Partido da Mãe Pátria continue existindo, sem Yilmaz nem Çiller no comando.
A crise política turca acontece em um momento em que Istambul, a maior cidade do país, abriga a Habitat 2, reunião da ONU sobre moradia, com milhares de participantes estrangeiros.

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