São Paulo, sexta-feira, 7 de junho de 1996
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O grande fisiológico

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Já me explicaram diversas vezes, mas continuo sem entender. Oito anos atrás, o bando que agora está no poder vivia uma festa com a promulgação da Constituição-Cidadã. O finado Ulysses Guimarães estava em alta, nomeava e desnomeava ministros. Em torno dele, tucanos, pefelistas e peemedebistas se empurravam disputando o venerando saco.
Um dos constituintes mais ativos, mais próximo ao saco do dr. Ulysses, era o atual presidente. Em oito anos, verificou que estava errado e partiu para outra. Daqui a quatro ou cinco anos descobrirá novamente que errou. Ele chama a isso de estratégia cultural.
Hoje, grande parte da turma que redigiu e aprovou a Constituição, tão louvada há tão pouco tempo, elegeu-a como a besta negra da nação. Reformando-a, prometem que o leite e o mel correrão pelas bicas. Enquanto não reformam, o país fica parado, desviando bilhões de reais para bancos falidos e deixando hospitais, escolas, estradas e o mercado de trabalho na pior.
Das reformas pretendidas, a única que na verdade interessa a FHC é a da reeleição. Que diabo, por que ele não propôs uma emenda nesse sentido quando foi constituinte? Seria, então, uma idéia em debate, não um emprego em processo.
Por essas e outras considero FHC o mais fisiológico dos políticos brasileiros, mais nefasto à causa nacional do que os ruralistas, empreiteiros e banqueiros que também só pensam em seus próprios interesses. E esquecem o bem público, esquecem a própria palavra para atingir a radiosa meta neoliberal: lucrar.
No início da semana, o presidente do Clube Militar, apontado pelos entendidos como homem comprometido com a repressão e a tortura dos anos de chumbo, fez um pouco de fumaça. Péssimo sinal. A linha dura ameaça sair da tumba, os abutres da liberdade têm fome. E o governo de FHC está produzindo carniça demais.

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