São Paulo, sábado, 8 de junho de 1996
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Romantismo de Alban Berg é resgatado em CDs

ARTHUR NESTROVSKI
ESPECIAL PARA A FOLHA

É uma história digna de opereta: em 1925, ao passar por Praga, Alban Berg, há anos casado (contra a vontade paterna) com Helene Nachowski (suposta filha "natural" do imperador Franz Josef), apaixonou-se por sua anfitriã Hanna Fuchs-Robettin, mulher de um industrial tcheco-eslovaco.
Hanna era irmã do romancista Franz Werfel, o terceiro marido da viúva do compositor Mahler e grande amiga de Helene Berg.
O romance entre Berg e Hanna jamais foi consumado; mas rendeu ao compositor dez anos de paixão escondida -e a Suíte Lírica. Composta em 1926, a Suíte é um dos pontos mais altos e uma das obras mais populares do impopular repertório de câmara moderno.
Foi só em 1979 que a sua forma fez-se mais clara, com a revelação de uma narrativa secreta do caso amoroso de Berg, cifrada na construção do quarteto.
Nada mais apropriado que o Quarteto Alban Berg, comemorando 25 anos tenha escolhido a Suíte para abrir esta coleção comemorativa ("Music of the Twentieth Century", EMI Classics). As obliqidades e ambivalências, as explosões de paixão, as citações (Mahler, Zemlinski) fazem desta uma obra vienense por excelência, prato cheio para a excelência vienense do Quarteto. Não menos secretas e apaixonadas são as Cartas Íntimas de Janacek, acompanhadas aqui do Quarteto nº 6 de Bartók e três miniaturas de Stravinski, mais o Concertino.
Além desses mestres, a caixa inclui um surpreendente quarteto de W. Rihm (1981), e o Quarteto nº 4 de Schnittke (1989), o maior compositor vivo da Rússia. Inclui também o Quarteto nº 2 do polonês R. Haubenstock Ramati (1977), rico de veladuras e violências.
O Quarteto Alban Berg toca essa música com a mesma sutileza com que já gravou Beethoven. É uma lição de música moderna e um voto de esperança nesta espécie de arte em extinção.

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