São Paulo, sábado, 8 de junho de 1996
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Yo Yo Ma se apóia na encenação para cativar

WILLIAM LI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Num clima de grande expectativa e com o Teatro Cultura Artística completamente lotado, estreou anteontem em São Paulo o mítico violoncelista Yo Yo Ma, acompanhado do pianista Jeffrey Kahane.
O recital começou com as "Cinco Peças em Tom Popular, Op. 102", de Schumann. Já aí ele revelou todas as suas características e como consegue cativar o público.
Yo Yo Ma não se limita a tocar o violoncelo: toca o violoncelo e o próprio corpo. Sua gesticulação é exagerada. Nas notas longas, contempla extaticamente o alto, nos allegros ataca como um touro. Ora, toda essa mímica não passa de encenação, que vem para substituir algo que está faltando.
A sonoridade de Yo Yo Ma ao vivo não tem nada de excepcional, ou melhor, tudo está lá: técnica deslumbrante, afinação, tempo e fraseado, além do aspecto teatral.
Mas, por mais que ele impressione, seu violoncelo não fala ao coração, não arrebata nossa alma, não nos faz mergulhar no íntimo de nosso ser e mexer com nossas mais profundas emoções. E é isso que se espera de um verdadeiro virtuose.
A medonha "Sonata para Violoncelo Solo" de George Crumb confirmou as primeiras impressões. Yo Yo Ma trata o violoncelo como uma máquina de fazer sons, e não como o amigo fiel, o elo entre as mais intensas emoções do espírito e a maneira de expressá-las.
O desafio maior ficou por conta da "Sonata Arpeggione, D. 821", de Schubert, gravada pelos maiores violoncelistas do século.
O resultado foi medíocre, apesar de Yo Yo Ma ter agradado ao público, pois, ator consumado, "explica" a seus ouvintes o que está acontecendo na composição.
Quanto à execução da "Sonata em Lá Maior" de César Franck, o piano engoliu o violoncelo. O público, fascinado pelo espetáculo e pela aura do mito, aplaudiu freneticamente. Não se pode dizer que Yo Yo Ma não seja excelente violoncelista. Mas não passa disso.

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