São Paulo, sábado, 8 de junho de 1996
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Vida de Noel Rosa é traduzida em filme

Curta de Van Steen será 'demo' para longa

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um curta-metragem produzido no Rio e em São Paulo sobre a vida de Noel Rosa vai servir de "fita-demo" para buscar fundos para a produção de um longa.
Quem teve a idéia foi o publicitário e artista plástico Ricardo Van Steen, 38, que prevê lançar o curta ainda este mês.
As filmagens aconteceram no mês passado na confeitaria Colombo, no Rio, e no hospital Humberto Primo, em São Paulo.
Van Steen está agora na fase de montagem do curta, que será usado também para conseguir o produtor para o longa-metragem.
Os atores que integrarão o elenco do longa-metragem ele ainda está selecionando. "Como Noel morreu muito jovem, aos 26 anos, o filme terá muitos atores novos que são pouco conhecidos", diz Van Steen. A única participação acertada até o momento é a do músico e ator Cacá Machado, 22, que interpretará Noel.
A história
Seu roteiro é baseado no livro "Noel Rosa - Uma Biografia", de João Máximo e Carlos Didier, que ele comprou os direitos.
Van Steen começa o curta com o dia em que Noel Rosa fica sabendo que é um paciente terminal com tuberculose.
"Noel desmaiou cantando no palco e só então foi levado ao médico. Descobriu ali que um de seus pulmões estava comprometido e o outro tinha 50% perdido por causa da doença." Ainda assim, segundo o diretor, Noel continuou compondo e vivendo na boemia.
O longa de Van Steen terá outro roteiro. Mas, tanto na versão do curta como na do longa, ele pretende manter a caracterização da época -Rio dos anos 30-, e deve apenas adaptar a linguagem.
Mesmo correndo o risco de ser criticado pelos acadêmicos, ele quer fazer uma história leve, que agrade uma grande parcela do público. "Quero atrair o antigo público dos filmes dos Trapalhões."
Pop star
Noel Rosa foi um pop star da sua época, segundo Van Steen. "O rádio era novidade, tocava em alto-falantes nas ruas. A programação ainda devia ser definida e Noel estava por ali, cheio de sambas já prontos."
Foi assim que, sem saber do poder de persuasão da mídia emergente, o rádio, Noel virou estrela. "As pessoas se apaixonaram por seus sambas. Todos sabiam suas letras de cor e queriam comprar seus discos."
Noel tornou o samba aceitável pela classe média. "Ele teve a sacada de unir aqueles ritmos africanos que ouvia no morro com a música repentista do nordeste."
Por ser branco e ter profundo conhecimento de português -usado com perfeição em suas letras-, ele frequentemente era convidado para fazer saraus para a alta burguesia carioca.
"Noel tinha um samba classudo, e ele era divertido, fazia crônica do dia-a-dia em ritmo de samba."
Bandidos e prostitutas
Segundo Van Steen, Noel gostava de compor com bandidos do morro e gostava das mulheres prostitutas. "Ele nunca se interessou por mulheres de classe média, mas sempre foi muito bem-sucedido com todas elas."
Por ser franzino e muito feio, Noel tratava de deslocar a atenção das pessoas para suas mãos -tocando violão- e fazia muitas piadas, era bom de papo, para conquistar a simpatia do público.
"Foi assim que ele pegou uma carona no rádio e se deu bem." Noel compôs, além de samba, ópera e jingles, fez novelas de rádio, era contador de piadas e chegou a ser locutor, segundo Van Steen.

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